Serie A

London loves… The way people just fall apart*

Totti e o Olimpico choram: sonho de reencontro na final se foi

Duas equipes baleadas se enfrentavam. Desfalcadas, desfiguradas e, portanto, incompletas, brigavam por uma vaga nas quartas-de-final de um torneio que provavelmente nem a melhor entre ambas venceria, ou melhor, vencerá. A Roma, apagadíssima na Inglaterra e empolgada na Itália, caiu fora. Nas últimas duas temporadas, os giallorossi chegaram às quartas-de-final, quando perderam para o Manchester United. Desta vez – a primeira como líder de seu grupo – sucumbiu perante a um Arsenal mais bem preparado.

Sem poder contar com Cicinho, Cassetti, Mexès, Panucci, De Rossi e Perrotta, os romanistas tiveram que confiar em jogadores que não estavam – e não estão – nas suas condições ideais. Juan, Pizarro e Totti voltavam de lesão e jogariam no sacrifício. E assim, no sacrifício, o zagueiro brasileiro permaneceu a primeira meia hora em campo, acertando carrinhos com maestria e marcando um gol. Provavelmente porque, quando logo aos cinco minutos sentiu sua lesão, Juan decidiu dar o máximo no curto tempo em que jogaria. Até o final da partida, deu tempo de Pizarro ser atendido três vezes fora de campo, Totti usar uma armadura no joelho digna de Cavaleiros do Zodíaco e Taddei se contundir, tendo sua presença descartada para o jogo deste domingo contra a Sampdoria.

E os giallorrossi, quem diria, conseguiram empolgar. Em um daqueles dias que não se repetem com muita frequência, era totalmente nítida a raça e disposição dos jogadores da Roma. Entregando-se ao máximo – Riise, por exemplo, jogou (e muito) como zagueiro depois da saída de Juan – conseguiram levar a partida até a disputa de pênaltis. Nesta, após começarem na frente com Doni pegando a cobrança de Eduardo da Silva, viram o sonho de disputar novamente a final de uma Liga dos Campeões em casa ir por água abaixo quando Max Tonetto, o sétimo a cobrar, mandou a bola para Londres. Detalhe: na final de 1984, no Stadio Olimpico, contra o Liverpool, os romanistas também começaram na frente, pois Steve Nicol desperdiçou o primeiro chute dos Reds.

O que chamou atenção, porém, foi a cobrança de Mirko Vucinic: em um chute simplesmente bizarro, o montenegrino conseguiu ser responsável por um dos pênaltis mais patéticos da história recente do futebol. Em entrevista após a partida, afirmou que não consegue nem explicar o que foi aquilo… E é bom que nem tente. Completou afirmando que teve vontade de “quebrar tudo”; o que, diga-se, também é bom que nem tente.

A Roma, desta vez, sai de cabeça erguida. Pode não significar nada em termos de resultado, mas a equipe – que há dois anos teve sua dignidade abandonada após tomar 7×1 do Manchester United em Old Trafford – demonstrou sinais de que tem condições de ser maior do que é. Pecou, ontem, pela temporada que não lhe foi e não é, de um modo geral, nada agradável; também pela péssima atuação em Londres. Conhecida por entregar jogos e sofrer apagões em situações teoricamente confortáveis, a Roma, pelo menos ontem, mostrou que pode conseguir respeito.

Mesmo que esse respeito não possa conseguir nada.

* – Trecho da música London Loves, da banda Blur, ícone do Britpop. Ou, caso você não conheça, aquela que fez a introdução do Fifa 98 com Song 2. Ou, caso você mesmo assim não conheça, aquela com “Woo hoo!”.

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3 comentários

  • Respeito a Roma pós-Spalletti já conseguiu. Mas não vai passar disso. Não é pedindo a cabeça dele pela queda, mas o trabalho em si não vai evoluir com ele no comando.

    E engraçado que o time caiu justo pro mais fraco dos últimos três adversários em oitavas. Passou por Lyon e Real Madrid antes de cair pra esse Arsenal.

  • pedaços místicos de uma Roma, ou de romanistas como eu, filhos ou não da trágica noite de 1984 espalhados, vagando na penumbra noite da quarta-feira passada. Eu simplesmente não queria acreditar naquilo, não poderia ser, ou melhor teria que ser diferente, talvez até com o mesmo sofrimento das anteriores, mas quem sabe com raça, com o desejo desenfreado de mostrar que o time era capaz.

    triste ilusão minha que minutos antes pensei naquela que foi a mais espetacular de todas as apresentações européias; os três a zero aplicados ao Dundee, com direito a dedinho de Nela e tudo.

    Mas infelizmente não se fazem mais jogadores como o Hulk Sebastiano, nem o o Brunetto de Nettuno, quanto dirá Di Bartolomeis e tantos outros que vestiram a camisa com raça e disseram para o Olímpico: nós temos vergonha na cara, porque não estamos entre as melhores do mundo por acaso. A derrota nos penaltis, como citou Mateus? Ainda que, prefiro reviver o penalti de Conti ou de Graziani indo pelos ares, do que ver o patético e infantil Mirko Vucinic detonando todos os sonhos romanistas com um chute horrendo.

    Isto não é desespero não, é uma mágoa profunda de alguém que sonhou ver aquela noite de 30 maio de 1984, ser apagada em uma nova primavera de 2009. Alguém que chegou a se preparar, como tantos outros, sonhando com um jeito de ir ver a final, com um final diferente. Esta semana conversando com um amigo meu de Roma, o Danielino, ele me disse: “Eu era ainda um menino e estava sentado ao lado do meu pai, quando vi a Roma perder o título para o Liverpool”. Não por acaso ele tem praticamente a minha idade, e não por acaso daqui a quinze anos, se Deus permitir, continuaremos alimentando o sonho de um final feliz, dentro da capital do mundo.

  • É o que comentei via MSN:

    Quando o jogo foi para os pênaltis, pensei que a Roma sairia vitoriosa.

    Foi aí que tive certeza de que ela iria perder. Afinal, não me lembro de muitas ocasiões recentes em que a Roma tenha lidado bem com possibilidades concretas de sucesso.

    No que comento isso, um sábio amigo meu interveio: “tanto faz, a Roma perde sendo favorita ou não”.

    E, tristemente, é verdade.

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