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Um pilar chamado Christian Panucci

No fim de agosto de 2010, se aposentou um dos maiores nomes do futebol italiano nos 20 anos anteriores. Christian Panucci, 37, confirmava sua despedida do futebol, 19 primaveras depois de estrear na Serie A, ainda com a camisa do Genoa. Duas vezes campeão italiano com o Milan, também faturou uma Liga dos Campeões em rossonero, enquanto na Roma venceu duas edições da Coppa Italia. Com a camisa do Real Madrid, conquistou outra Liga dos Campeões e foi campeão mundial (ou da Copa Intercontinental, à época) em 1998.

Bicampeão europeu com a Nazionale sub-21 (94 e 96), não teve a mesma sorte defendendo a principal: na Copa do Mundo de 2002, falhou no gol da Coreia do Sul que levou o jogo à infeliz (e polêmica) prorrogação. Já em 2006, embora mantivesse grande nível, não foi à Alemanha por desavenças abertas com Marcello Lippi. Dotado de bom preparo físico e muita inteligência, conseguiu jogar com qualidade até o fim de seu contrato com a Roma, em 2009, e no início de sua passagem em Parma, onde, depois de seis meses, rescindiu seu contrato por motivos ‘estritamente pessoais’.

No Milan, Panucci ganhou seus primeiros títulos (imago)

Uma introdução tão grande reflete bem a carreira de Panucci: há muito a se falar sobre o defensor. Ora lateral-direito, ora zagueiro – e, quando necessário, até quebrando galho na esquerda -, ele se tornou uma das maiores figuras do futebol italiano moderno. Mantinha postura bastante característica, tanto por seu cabelo engomado e impecavelmente dividido quanto pela camiseta sempre guardada dentro do calção. Dificilmente falava manso, e sim esbravejava com explosão, levantando o indicador à face de adversários, ou mesmo de companheiros.

Seríssimo em campo, não lhe faltava atenção; fazendo-se impossível ver Panucci brincando em momentos inapropriados. O cabelo mudou no fim da carreira: embora sempre fiel ao gel, cortou a franja hitleriana e a levantou. Jamais apareceu em campo com barba, numa limpeza facial praticamente militar. Panucci era claramente um caxias.

O defensor foi o primeiro italiano a atuar pelo Real Madrid, e por lá foi campeão europeu (imago)

Aliando o poder de concentração com notória disciplina tática e um bom condicionamento físico, a constância foi uma das propriedades da carreira do lateral. Panucci nunca foi um grosso, mas igualmente não esbanjava de técnica e, portanto, soube aproveitar muito bem aquilo que lhe favorecia. Bastante comparável ao brasileiro Cafu, não foi, ao contrário do brasileiro, um onipresente de sua seleção. Este é, provavelmente, o único buraco da carreira do Grinta (raça, em italiano), como foi apelidado.

De gênio demasiado forte, discutia com a mesma constância de seu futebol: brigou com Arrigo Sacchi, que só o tomou em consideração depois da Copa de 1994, e com Marcello Lippi, cujo encontro se deu na Inter, na temporada 1999-00, e cujo péssimo relacionamento (jamais negado) cortou o lateral de qualquer convocação do treinador – o que inclui, claro, o elenco campeão do mundo em 2006.

Entre o fim dos anos 1990 e início dos 2000, Panucci teve período de más experiências, como a vivida na Inter (Allsport)

Ele ainda se reencontraria com Sacchi no Milan, seu principal motivo da transferência para o Real Madrid – e também motivo de declarações nada amorosas. Ainda assim, disputou duas Copas (98 e 2002) e duas Euros (2004 e 2008), esta última sob o comando do amigo Roberto Donadoni, e na qual marcou um gol, tornando-se, com 35 anos, o mais velho a fazê-lo com a camisa azzurra. Contudo, foi nesse torneio que acabou se despedindo da seleção.

Enquanto jogador do Genoa, Panucci não precisou de muito tempo para chamar atenção do Milan. Mesmo jovem, foi um pilar do time de Fabio Capello – o mais elogiado de seu comunicado de despedida. O lateral o seguiu em Madri, tornando-se o primeiro italiano a vestir a camisa blanca. Duas temporadas e meia depois, passou à Inter, quando deu início à pior fase de sua carreira: uma época conturbada com os nerazzurri; uma e meia dividido entre Chelsea e Monaco, atuando pouco.

O time em que Panucci passou mais tempo foi a Roma: ao todo, vestiu a camisa giallorossa durante oito anos (Getty)

A Roma de Capello o resgatou no início de 2001-02 e fez de Panucci seu pós-Cafu, que deixaria o clube em 2003. O italiano, que com frequência alternava entre as funções de zagueiro e lateral, tornou-se titular absoluto desde então, e assim permaneceu até meados de 2007. Quando parecia em fim de carreira, entretanto, Grinta se manteve como peça importantíssima e opção versátil do elenco. Até, claro, brigar feio com Luciano Spalletti por não aceitar a condição de reserva. Isso em 2009, mesmo ano em que encerrava seu contrato.

Para a temporada seguinte, assinou com o Parma e começou bem, mas acumulou problemas extracampo e, dessa vez, não manteve o ritmo. Panucci conquistou o posto de ídolo em Milão, Madri e Roma, o que jamais será pouco, em se tratando de futebol. Ao anunciar sua aposentadoria, fez cair um pilar folclórico do futebol italiano. E deixando saudades.

Atualizado em 2024: após sua aposentadoria, Panucci seguiu ligado ao futebol. O ex-defensor foi responsável pela área técnica do Palermo por alguns meses e, entre 2012 e 2014, auxiliar de Capello na seleção russa. Como treinador, teve duas passagens pelo Livorno (2015 e 2016), uma pela Ternana (2016) e um biênio na condição de comandante da Albânia, entre 2017 e 2019. Além disso, passou a atuar como comentarista em vários canais de TV.

Christian Panucci
Nascimento: 12 de abril de 1973, em Savona, Itália
Posições: lateral-direito e zagueiro
Clubes: Genoa (1990-93), Milan (1993-96), Real Madrid (1996-99), Inter (1999-2000), Chelsea (2000), Monaco (2001), Roma (2001-09) e Parma (2009-10)
Títulos: Europeu Sub-21 (1994 e 1996, Supercopa Italiana (1993, 1994 e 2007), Serie A (1994 e 1996), Champions League (1994 e 1998), Supercopa Uefa (1994), La Liga (1997), Mundial Interclubes (1998), Charity Shield (2000) e Coppa Italia (2007 e 2008)
Seleção italiana: 57 jogos e 4 gols

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