Técnicos

Azeglio Vicini, o homem que barrou Roberto Baggio

Quando Azeglio Vicini estava para se aposentar, em 1966, após passagens por Cesena, Lanerossi Vicenza e Sampdoria e mais três temporadas defendendo o Brescia, uma nova carreira estava prestes a começar. Aldo Lupi, que presidia o clube bresciano à época, fez a primeira oferta para que o ex-jogador treinasse a equipe que havia acabado de deixar como jogador.

O primeiro emprego como técnico, porém, teve curta duração. O rebaixamento derrubou Vicini, que só foi arrumar um novo emprego como treinador na década seguinte. Naqueles anos difíceis, quem imaginaria que ele chegaria à seleção italiana?

Em 1968, quando deixou o Brescia, Vicini começou a trabalhar no setor técnico da seleção italiana. Com o conhecimento adquirido nestes anos de trabalho, Vicini foi apontado como treinador da seleção sub-23 do país, cargo que ocupou entre 1975 e 1976. A partir de 1977, Vicini subiu na hierarquia das seleções de base: passou a treinar a equipe sub-21, para deixá-lo apenas nove anos depois, em 1986.

Neste período, o romanholo comandou os primeiros passos de grandes jogadores quando eles ainda integravam o elenco dos azzurrini, como Roberto Mancini, Gianluca Vialli, Walter Zenga, Roberto Donadoni e Giuseppe Giannini. Estes jovens disputaram o Campeonato Europeu da categoria em 1986, mas foram derrotados na final pelos espanhóis, nos pênaltis.

Vicini acompanha o sorteio da Euro 1988 ao lado de Rinus Michels (imago)

Enquanto olhava seus pupilos, Vicini também ajudava Enzo Bearzot, treinador da seleção principal. Ele foi um dos principais fundamentalistas do sistema defensivo que deu muito certo na campanha da Copa do Mundo de 1982. Quatro anos depois, porém, a Squadra Azzurra não fez bonito no México e Bearzot caiu após a derrota para a França nas quartas-de-final do Mundial. Seu sucessor natural era Vicini, que teve a Eurocopa de 1988 como seu primeiro grande desafio.

Ele chamou o miúdo-maravilha Roberto Baggio, que teve uma ótima temporada jogando pela Fiorentina, para disputar o torneio na Alemanha. A seleção se classificou sem problemas na fase de grupos, mas não foi páreo para a União Soviética, na semifinal. A missão de comandar a equipe na Copa que seria disputada em casa era dura. Vicini fora pressionado para mostrar que a Itália tinha chance de retomar “o topo do mundo”.

Na primeira partida da competição, o único gol foi marcado pelo então reserva Salvatore Schillaci. Ele foi preterido por Vicini no jogo contra a Áustria. E só. O atacante contratado pela Juventus ganhou a vaga no ataque e, no fim do Mundial, ganhou a Bola e Chuteira de Ouro.

A vitória contra a Tchecoslováquia, no último confronto da fase de grupos, gerou protestos. Azeglio Vicini criticou o comportamento de Roberto Baggio após ele marcar um golaço. O treinador acusou Roby de ser individualista e sem espírito de equipe e, depois das vitórias nas oitavas e nas quartas contra Uruguai e Irlanda, deixou o fantasista no banco de reservas exatamente na semifinal contra a Argentina, jogo em que os italianos saíram derrotados nos pênaltis em um San Paolo lotado.

Felicidade pela metade: Itália fez boa Copa como anfitriã em 1990, mas caiu nas semifinais (imago/WEREK)

A Nazionale, que acabou vencendo a Inglaterra na decisão de terceiro lugar, no entanto, não foi somente Totò e eliminação para a Argentina de Maradona. Vicini emplacou um sistema defensivo eficiente com Maldini, Baresi, Bergomi e Ferri à frente de Zenga, que foi vazado apenas duas vezes. Passado o fim do sonho de ser campeã em casa, a Itália deveria começar a pensar na Eurocopa de 1992. A má campanha nas eliminatórias credenciou a demissão do treinador depois que a seleção, com a mesma base que fez ótima campanha na Copa de 1990, não conseguiu vaga para o campeonato que seria disputado na Suécia.

Vicini foi substituído por Arrigo Sacchi e retornou para o Cesena, clube de sua cidade natal e no qual havia iniciado a carreira de jogador. Um ano depois, na temporada 1993-94, foi contratado pela Udinese, mas sucumbiu após apenas uma vitória em seis rodadas, iniciando mal uma campanha que levaria o clube ao rebaixamento à Serie B. Vicini ainda foi conselheiro técnico do Brescia antes de assumir a presidência da Associação Italiana dos Treinadores de Futebol. Ironicamente, em 2010, ele deixou o seu cargo de presidente do setor técnico da FIGC para Roberto Baggio.

No fim de janeiro de 2018, Vicini faleceu em Brescia, aos 84 anos.

Azeglio Vicini
Nascimento: 20 de março de 1933, em Cesena, Itália
Morte: 30 de janeiro de 2018, em Brescia, Itália
Posição: meio-campista
Equipes como jogador: Lanerossi Vicenza (1953-1956), Sampdoria (1956-63), Brescia (1963-66)
Equipes como treinador: Brescia (1967-68), Seleção italiana sub-23 (1975-76), Seleção italiana sub-21 (1976-86), Seleção italiana (1986-91), Cesena (1992-93), Udinese (1993-94)

Compartilhe!

Deixe um comentário