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O chileno Marcelo Salas viveu grande momento com a camisa da Lazio

Nos anos 1980 e 1990, a Serie A era o principal palco do futebol mundial. Nada mais comum, então, que uma das duplas de ataque mais temidas do futebol sul-americano jogasse por lá. Os dois maiores jogadores da história do Chile, Iván Zamorano e Marcelo Salas, não decepcionaram no Campeonato Italiano. Sobre o “Za”, da dupla Za-Sa, já escrevemos. Agora é a hora do seu complemento.

Parceiro de Zamorano, Salas é, até hoje, o maior artilheiro de La Roja. O atacante é um ídolo dos chilenos e levou alegrias aos torcedores de quase todas as equipes pelas quais passou. Sempre vivendo de muitos gols, conseguiu a incrível marca de 50 gols em 75 jogos pela Universidad de Chile e, com apenas 22 anos, transferiu-se para o River Plate, futuro campeão da Libertadores da América.

Os gols pelos millionarios e o desempenho pelo Chile nas Eliminatórias da Copa do Mundo – Salas foi o vice-artilheiro, com 11 gols, e Zamorano venceu a disputa, com 12 – chamaram a atenção da Lazio que, com o aporte financeiro do presidente Sergio Cragnotti, buscava o segundo scudetto após mais de 20 anos. Salas foi contratado com a temporada em andamento, mas só se juntaria aos aquilotti em julho de 1998.

Ao final da temporada, Salas viveu um de seus maiores momentos, na disputa do Mundial da França, em 1998 (o único de sua história). O Matador logo mostrou sua marca, e na estreia, diante da Itália, fez os dois gols no empate por 2 a 2. A seleção chilena despontava como uma possível surpresa, mas acabou derrotada pelo Brasil, nas oitavas de final. Salas anotou quatro gols no torneio.

Salas e Ibagaza, do Mallorca, duelam na Recopa Uefa (imago)

Motivado pelo bom momento, Salas chegou à Cidade Eterna com importantes companhias. Apesar de uma série de boas campanhas nos anos anteriores, alternando entre a 2ª e a 7ª colocações, faltava o principal título. E para isso, Sven-Göran Eriksson recebeu, além de Salas, nomes como Mihajlovic, Sérgio Conceição, Nedved, Stankovic, De la Peña, Fernando Couto e Vieri, que se juntaram ao time que já tinha Marchegiani, Negro, Favalli, Nesta, Mancini e Almeyda.

As perspectivas para a temporada eram grandes e o título já era dado como certo. Mas, ao final, veio a frustração com a segunda colocação, um ponto atrás do Milan, que reagiu no campeonato e ultrapassou os biancocelesti. As taças da Supercoppa e da Copa Uefa serviram como consolação para o time. Fundamental na equipe, Salas terminou a temporada como artilheiro laziale, com 23 gols – 15 na Serie A. O principal certamente foi o contra a Juventus, em Turim, que garantiu a vitória nos últimos minutos. Salas ainda fez um no 3 a 3 contra a Roma, cobrando pênalti.

A temporada 1999-2000 seria espetacular não apenas para a Lazio, como também para El Matador. Logo no primeiro jogo oficial, ele garantiu o título da Supercopa Europeia contra o Manchester United. Com a saída de Vieri, a Lazio passou a atuar com um ataque de mais mobilidade, com Boksic, Ravanelli e Mancini, tendo Salas com mais importância como primeiro atacante. Com 12 gols no campeonato, ajudou a tirar a Lazio da fila e a levantar o scudetto após 26 anos.

Os gols mais decisivos do chileno foram em um emocionante 4 a 4 contra o Milan e na penúltima rodada, quando ele anotou o último tento laziale no 3 a 2 contra o Bologna. Aquela vitória manteve a Lazio viva na briga do título, que chegou só na última rodada, com o tropeço da Juventus. No ano do centenário, a equipe também faturou a Coppa Italia, ao bater a Inter na final. Dobradinha, portanto, e 17 gols do chileno em toda a temporada.

Salas defendeu a Lazio no período mais glorioso da história da agremiação (Allsport)

Foi o principal momento de Salas na Europa. O jogador desenvolveu um sentimento especial em relação à torcida, conforme relembrou em entrevistas, anos depois. “Sei que esses loucos se recordam de mim até hoje e esse sentimento é recíproco. É por isso que depois, durante minha carreira, sempre disse que meu sonho era voltar a vestir a camisa da Lazio”, disse.

A temporada pós-título começou e junto delas as mudanças. Eriksson trocou a equipe pela seleção inglesa e o espírito copeiro não foi o mesmo sob o comando de Dino Zoff – Salas acabou convivendo com algumas lesões e marcou apenas oito gols na temporada. Ao mesmo tempo, a Lazio viu a rival Roma levar o scudetto, em um campeonato em que ficou apenas na terceira colocação. O clube caiu numa crise financeira terrível por conta da gastança dos anos anteriores, e vendeu seus principais jogadores. Entre eles, Salas.

Depois de 117 jogos, 48 gols e uma história belíssima com a torcida laziale, Salas foi comprado pela Juventus, que pagou 25 milhões de liras e ainda cedeu aos romanos o sérvio Darko Kovacevic. Mas em Turim, a carreira do Matador não deslanchou. Desde o início, sua relação com Marcello Lippi não foi das melhores. No início do trabalho, o treinador insistia em certos posicionamentos, que iam contra os propósitos e os números do atacante.

Não bastassem os enfrentamentos com a direção técnica, dois meses após ser contratado, Salas sofreu uma séria lesão no ligamento cruzado do joelho direito, que o tirou do restante da temporada. Apesar da promessa em voltar a ser como antes, não conseguiu. Salas conquistou dois scudetti apenas como parte do elenco. A temporada seguinte foi tão ruim quanto a anterior e, sem a forma física ideal, ele perdeu espaço na equipe para Del Piero e Trézéguet. Ao todo, Salas fez apenas 32 jogos e marcou quatro golzinhos pela Velha Senhora. Neste período, ficou longe da seleção, e só voltou a ser convocado em 2004.

O Matador comemora um de seus poucos gols pela Juventus: lesão atrapalhou o atacante (Allsport)

Sem espaço na Juve, o chileno retornou ao River Plate, emprestado por dois anos pelo clube binaconero. No entanto, El Matador já não era mais o mesmo: aquele velho Marcelo Salas não voltou aos campos, e sua segunda passagem pelo clube de Buenos Aires foi bem abaixo do esperado.

Em 2005 voltou à seu clube de origem, o Universidad de Chile, onde jogou por mais três temporadas antes de encerrar a carreira por La U. Salas foi bem, conseguiu recuperar parte de sua forma física e, em 2007, até foi convocado por Marcelo Bielsa para a seleção chilena – da qual havia se aposentado dois anos antes. Sua despedida oficial aconteceu em 2009, com o Estádio Nacional lotado, com mais de 60 mil pessoas, para ver a última aparição daquele que foi um dos melhores jogadores chilenos da história.

Após deixar a carreira de jogador, Salas se tornou presidente do Deportes Temuco, de sua cidade natal. Ele também atua como dirigente esportivo da equipe, que milita na segundona chilena.

José Marcelo Salas Melinao
Nascimento: 24 de dezembro de 1974, em Temuco, Chile
Clubes em que atuou: Universidad de Chile (1993-96 e 2005-08), River Plate (1996-98 e 2003-05), Lazio (1998-2001) e Juventus (2001-03)
Títulos conquistados: Campeonato Chileno (1994 e 1995), Campeonato Argentino (1996, 1997 e 2004), Copa Libertadores da América (1996), Supercopa Libertadores (1997), Serie A (2000, 2002 e 2003), Coppa Italia (2000), Supercopa Italiana (1998, 2000, 2002 e 2003), Supercopa Uefa (1999) e Recopa Uefa (1999)
Seleção chilena: 71 jogos e 37 gols

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