Jogadores

Andrea Carnevale foi peça importante do Napoli bicampeão italiano

Carnaval é um misto de alegria e tristeza – é o que cantam os poetas de nossa música. A vida de Andrea Carnevale, atacante famoso dos anos 1980 e 1990, incorporou o espírito dúbio do seu sobrenome e deu ao jogador muitos festejos mas também muita desilusão. Ele foi importante nos dois títulos italianos conquistados pelo Napoli, mas ao mesmo tempo teve uma duríssima história de vida.

De família pobre, o pequeno Andrea nasceu em Monte San Biagio, cidadezinha da província de Latina, distante cerca de 100 quilômetros da capital, Roma. Na infância e no início da adolescência, Carnevale se dividia entre os estudos, o futebol e pequenos serviços como aprendiz de carpinteiro, garçom e mecânico. O pai, chefe da família, emigrou para a Alemanha, em busca de uma vida melhor para sua esposa e seus sete filhos. Quando voltou, Andrea tinha 13 anos, mas não aproveitou muito o retorno do seu progenitor: Gaetano, seu pai, teve um ataque e assassinou a esposa, Filomena, quando ela lavava roupas em um rio. Ele se entregou e foi colocado em um manicômio judiciário, onde cometeu suicídio, cinco anos depois.

Carnevale preferiu falar pouco sobre a tragédia e se dedicou a dar certo no futebol, embora a falta de estrutura familiar e os traumas causados por isso lhe fizeram um tipo de difícil trato. Durante toda a carreira, o atacante teve problemas de comportamento que comprometeram o seu desenvolvimento no esporte.

Ele começou nas categorias de base do Fondi, time da região, e logo passou a defender o Latina, na Serie C1. Apesar do rebaixamento dos nerazzurri, Carnevale acabou indo jogar a Serie A, em 1979: fechou com o Avellino, treinado por Rino Marchesi. Ele só entrou em campo uma vez no primeiro ano pelos biancoverdi – estreou pelo clube contra a Roma, equipe da qual é torcedor, na última rodada do campeonato –, mas com a troca no comando da equipe, foi mais utilizado. O brasileiro Luís Vinício, ídolo do Napoli, começou a escalá-lo pelos lados do campo, onde dividia espaço com Juary.

Carnevale disputa espaço com Schmäler, na final da Copa Uefa (imago/Kicker/Liedel)

No entanto, ele não permaneceu nos irpini em 1981-82. Foi ganhar experiência na Serie B, onde rodou por Reggiana e Cagliari, sem nunca ter visto suas equipes concluírem a temporada acima da 10ª posição – inclusive, viu a primeira delas ser rebaixada. Em 1984, Carnevale voltou à primeira divisão, mas não conseguiu salvar o Catania do rebaixamento em sua passagem de menos de seis meses pela Sicília.

Embora os resultados em campo não fossem os melhores, Carnevale havia ganhado destaque individual, principalmente pela boa passagem pela Reggiana, clube pelo qual anotou 16 gols. Aos 23 anos, o atacante reencontrou Luís Vinício, que havia lhe dado as primeiras chances reais na elite. O latino fechou com a Udinese e foi ser colega de Edinho e Zico, sendo destaque da equipe: abastecido pelo Galinho de Quintino, Carnevale marcou sete gols na Serie A e foi o artilheiro dos friulanos naquele ano. No ano seguinte, já sem Zico, Carnevale voltou a ser o goleador da Udinese no Campeonato Italiano, com nove gols, e ainda guardou outros quatro na Coppa Italia.

O sucesso em equipes menores finalmente lhe haviam proporcionado a chance de voos maiores. Aos 25 anos, depois de vestir a camisa de seis equipes pequenas e medianas, por quatro milhões de liras, Carnevale se juntou ao Napoli – foi contratado juntamente com o meia Fernando De Napoli.

Carnevale disputou a Copa de 1990, mas xingou o técnico e só esteve presente em partidas da primeira fase (imago/WEREK)

Dois anos antes, o presidente Corrado Ferlaino havia iniciado a era Diego Maradona, abrindo o caixa para novas contratações. Os azzurri, treinados por Ottavio Bianchi, acrescentaram duas peças importantes a um elenco que já tinha outros jogadores importantes no elenco, como os zagueiros Giuseppe Bruscolotti, Moreno Ferrario e Ciro Ferrara, o volante Salvatore Bagni e o atacante Bruno Giordano. Com a chegada de Carnevale, aliás, estava formada a primeira versão o trio Ma-Gi-Ca (Maradona, Giordano e Carnevale, depois substituído por Careca).

Carnevale, atacante oportunista e bom no jogo aéreo se aproveitou muito das assistências do camisa dez argentino para viver o seu melhor momento no futebol. Além da ótima capacidade de balançar as redes, ele também tinha habilidade para criar espaço para os próprios arremates e combinar com os outros integrantes do setor ofensivo napolitano. Jogar com Maradona o fez acumular títulos. Em 1986-87, venceu a Serie A e a Coppa Italia, marcando 13 vezes e colaborando bastante para o sucesso partenopeu – inclusive, foi dele o gol que garantiu o scudetto, em empate com a Fiorentina.

No ano seguinte, Carnevale perdeu a titularidade para Careca e participou pouco da campanha do vice-campeonato azzurro – o Milan conseguiu reverter desvantagem do primeiro turno –, o que o fez brigar com o técnico e a diretoria, quase ocasionando sua saída para a Roma. Em 1988-89, depois de Giordano partir para o Ascoli, Carnevale foi reintegrado ao elenco e voltou a ser titular, jogando na faixa esquerda do campo, enquanto Maradona jogava centralizado e mais recuado e Careca entrava na área vindo pelo lado direito.

Carnevale teve uma passagem razoável pela Roma, seu time do coração (imago)

O tridente, depois de dominar a Itália, também fez sucesso na Europa, através da vitória na Copa Uefa. Dois gols de Carnevale foram fundamentais: um contra a Juventus, na quartas de final, e, outro, contra o Bayern de Munique, nas semifinais. O atacante ainda marcou 13 vezes na Serie A, em novo vice azzurro.

A quarta taça conquistada por Carnevale em seus quatro anos de Nápoles foi o segundo scudetto partenopeu, em temporada na qual marcou oito vezes, já sob o comando do técnico Alberto Bigon – dois destes gols foram sobre o Milan, um dos grandes concorrentes ao scudetto. A consagração com a camisa napolitana fez com que Carnevale merecesse convocações para a seleção italiana a partir de 1988.

O azzurro atuou na Olimpíada de Seul, em 1988, e ajudou a Itália a ficar com o quarto lugar, e também foi convocado por Azeglio Vicini para a Copa do Mundo de 1990. Após começar os dois primeiros jogos como titular e ser substituído em ambos por Salvatore Schillaci, ele xingou o treinador e nunca mais vestiu a camisa da Nazionale – nem no Mundial nem depois.

Na segunda de suas três experiências pela Udinese, o atacante fracassou (imago)

Depois do segundo título na Serie A e a fracassada trajetória pela Itália na Copa, Carnevale mudou de ares: o atacante deixou o San Paolo para assinar com a Roma, clube pelo qual sempre sonhou jogar. A temporada começou a todo vapor e o jogar marcou quatro gols em cinco partidas. Até que, juntamente com o colega Angelo Peruzzi, foi pego no exame antidoping por uso de fentermina, substância que auxilia no emagrecimento. Depois de passar um ano suspenso, Carnevale voltou a atuar em 1991-92 e jogou pela Roma até o ano seguinte, encerrando sua passagem pelos giallorossi com 51 partidas e 15 gols.

Já no final da carreira, Carnevale teve duas passagens pela Udinese (uma delas na elite, em que não marcou nenhum gol) e duas pelo Pescara, ambas na segundona – pelos golfinhos, marcou 24 gols em 52 partidas. Aos 35 anos, decidiu pendurar as chuteiras, em 1996.

Depois de largar o futebol, começou a ter sérios problemas com drogas. Em 2002, ele chegou a ser preso por tráfico de cocaína, mas acabou sendo liberado depois. Depois disso, tentou entrar na política, sem sucesso, mas foi a Udinese que lhe deu uma chance real de começar de novo: desde 2004 ele é olheiro da equipe e tem ajudado os friulanos a construírem um modelo sustentável de futebol a partir da formação de jovens talentos de todo o mundo.

Andrea Alessandro Carnevale
Nascimento: 12 de janeiro de 1961, em Monte San Biagio, Itália
Posição: atacante
Clubes: Fondi (1977-78), Latina (1978-79), Avellino (1979-81), Reggiana (1981-83), Cagliari (1983), Catania (1984), Udinese (1984-86, 1993 e 1994-95), Napoli (1986-90), Roma (1990-93) e Pescara (1993-94 e 1995-96)
Títulos: Serie A (1987 e 1990), Copa Uefa (1989) e Coppa Italia (1987)
Seleção italiana: 10 jogos e 2 gols

Compartilhe!

Deixe um comentário