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Eternas promessas: Nicola Ventola

Ventola: perspectiva inversamente proporcional ao resultado
Ontem, era sombra de Ronaldo; hoje, de Bjelanovic

Diferente do Brasil, onde vários jogadores debutam e estouram com uma média de idade baixíssima, na Itália há uma maior proteção com os jovens da primavera, isto é, aqueles das categorias de base do clube. Tanto é que, da seleção campeã mundial em 2006, apenas três jogadores tinham até 24 anos – O terceiro goleiro Amelia, do Livorno, o volante De Rossi, da Roma, e o atacante Gilardino, do Milan. Normalmente, quando um inexperiente já surge na equipe principal, o faz por numerosas ausências no plantel titular ou um potencial exorbitante que deve ser necessário ao time.

Ou seja, não é a qualquer momento que um grande jogador rouba um lugar de outro mais experiente apenas pelas exibições amadoras. Para testar os atletas e ao mesmo tempo não queimá-los, as equipes optam por emprestá-los a clubes mais fracos e/ou de divisões inferiores, acumulando assim adaptação e experiência no futebol profissional. Foi assim que Alberto Aquilani, hoje com papel importantíssimo na Roma, conseguiu o seu lugar na equipe principal – retornando de empréstimo da Triestina. Bem como ocorrido com o jurássico Costacurta, no Milan. Na temporada 1986/87, o defensor foi emprestado ao Monza, quando disputou trinta partidas e retornou para se eternizar em Milão.

Porém, não foi com tanta cautela assim que surgiu Nicola Ventola, atacante ágil e de bom porte físico. Com apenas 16 anos e meio, acabou estreando pela Serie A italiana na derrota do seu Bari contra a Fiorentina pelo placar de 2 a 0, em Florença, no dia 11 de novembro de 1994.

Nascido em Grumo Appula, o jogador só viria a disputar essa mesma partida na temporada 1994/95, graças a desfalques, entre outros, do atacante Igor Protti, da então equipe visitante. Já na temporada seguinte, pelo mesmo Bari, o centro-avante entrava aos poucos e agradava a torcida com o curto tempo que tinha – tendo disputado apenas sete partidas e sem ainda balançar as redes. O que não o ajudou muito foi o fato dos bareses caírem para a segunda divisão.

No entanto, uma troca de treinadores no clube fez com que mudasse também a atitude em relação ao jovem atacante. Após a saída do comandante Giuseppe Materazzi, pai do defensor nerazzurro Marco Materazzi, o Bari fechou com Eugenio Fascetti. Sem muitas escolhas, o atual comentarista televisivo acabou liberando o garoto para a equipe titular.

A Inter contratou Ventola após o bom início do atacante pelo Bari (imago)

Não demorou muito para que Ventola conquistasse os corações esperançosos dos biancorossi. Militando freqüentemente na Serie B, onde conseguiu juntar 29 presenças, Nicola conseguiu marcar dez gols e despertar o interesse de equipes maiores. Comandada por suas finalizações e por outra então promessa chamada Marco Di Vaio, a equipe baresa conseguiria então chegar à quarta colocação, e, conseqüentemente, à Serie A novamente.

Na divisão de elite, Ventola dava cada vez mais sinais de amadurecimento, porém problemas físicos e concorrências pelo seu posto fizeram-no disputar apenas 8 partidas, balançando as redes duas vezes. Ainda como uma das maiores promessas do Calcio, na temporada seguinte o atacante de 1.85m conseguiu uma lucrativa e importante transferência para a Internazionale de Ronaldo. O que viria a ser uma negociação para alavancar o jogador e transformá-lo de mera promessa em um dos maiores atacantes italianos tornou-se um dos maiores fiascos do Calcio.

Atuando em uma Inter totalmente instável, que teve três treinadores em apenas dois anos, Nicola disputou 21 partidas e marcou seis gols. Nem o seu tento contra os futuros campeões europeus do Manchester United bastou para que se firmasse na equipe. Com a chegada de Christian Vieri, vindo da Lazio pelo equivalente a 48 milhões de euros, Ventola perderia espaço e seria emprestado ao Bologna. Lá, passaria a temporada 1999/2000 em branco, apesar de ter jogado 14 partidas.

Nome freqüente nas seleções italianas de base, Ventola venceria com os azzurrini o Europeu sub-21, ao lado de jogadores como De Sanctis, Ferrari, Gattuso, Pirlo, Perrotta, Abbiati, Coco e Spinesi. No torneio, deixaria o seu na vitória contra a Turquia, por 3 a 1. Nicola foi também convocado para as Olimpíadas de Sidney, em 2000, tendo ficado ao lado de seu ex-companheiro de Bari, Gianluca Zambrotta. Na Austrália, o barês não conseguiu marcar. No total, o atacante teve 21 jogos e 8 gols pela seleção sub-21.

Até aqui, poderia se dizer com certa razão que o atacante só não havia estourado por questões de tempo, oportunidade e paciência, além de algumas lesões que o haviam atrapalhado. Passado outro ano com o ataque da Inter cheio e tantas outras trocas de treinador, Ventola é então emprestado à Atalanta, mais uma vez na Serie A. Em Bérgamo, municiado pelo excelente Cristiano Doni, Nicola se recuperaria e faria dez gols em 28 partidas, mantendo-se como uma importante promessa para o futebol italiano. De volta à Inter, em 2001/02, ele novamente seria pouco aproveitado e entraria em campo somente 16 vezes, marcando quatro gols.

O declínio total

A paciência com il talento di vecchia Bari já esgotava-se, quando, para acabar de vez com qualquer esperança do atacante, a ainda conturbada Inter se reforçaria com nada mais nada menos que Hernán Crespo, vindo de uma excelente passagem de dois anos na Lazio, e Gabriel Batistuta, que vinha por empréstimo após se desgastar na Roma.

Além disso, a equipe já contava com um mais amadurecido Mohammed Kallon, o habilidoso e incisivo Álvaro Recoba e o sempre matador Christian Vieri. Ataque numeroso que já havia perdido Ronaldo para o Real Madrid. O resultado de todo esse inchaço para Ventola, que, ainda por cima foi novamente atrapalhado por problemas físicos, foi uma temporada sem sequer entrar em campo.

Perder gols com a camisa da Atalanta era cena comum para Ventola (imago/IPA Phot)

O destino de Nicola não poderia ser outro senão sair, ou ao menos passar um tempo fora, daquela equipe que não conseguiria espaço jamais. E foi assim que o Siena, time que até então contava com Taddei e os campeões mundiais Roque Júnior e Júnior, levou-o por empréstimo.

E, por incrível que pareça, nem lá Ventola conseguiu se firmar – os toscanos contavam com os já experientes Chiesa e Tore Andre Flo para suas posições mais ofensivas, além de Lazetic. Lá, o barês marcou apenas quatro gols em 28 partidas, já firmando a sua imagem de eterna promessa. Os bianconeri e os interistas não chegaram a nenhum acordo de compra e, pela terceira vez, o atacante encaminhava-se a Milão.

Sua última chance? De maneira alguma. O elenco havia mudado, porém o inchaço ofensivo continuava o mesmo, com o ágil Obafemi Martins, o promissor Van der Meyde, o ascendente Adriano, os remanescentes Recoba e Vieri e o não menos matador Júlio Cruz. Mais seis meses sem pisar nos gramados oficialmente e Ventola foi então cedido por empréstimo ao Crystal Palace, na Premier League inglesa. Perseguido por problemas físicos, o barês só disputaria três partidas em meia temporada, marcando um gol. Sua imagem como uma eterna promessa já estava fadada, e seu futuro, indefinido.

De volta à Itália, Nicola retornaria à Atalanta, disposto a jogar a Serie B para tentar uma já não tão aguardada recuperação. Enchendo de argumentos aqueles poucos que afirmavam que o atacante não passava de um jogador de segunda divisão, Ventola marcaria quinze gols em 35 jogos disputados, um número agradável para quem vinha de um grave infortúnio físico na Inglaterra e vários mentais na Itália, visto que não deve ter sido muito agradável nunca ter se obtido uma grande seqüência.

Com ele, os bergamascos conseguiriam a promoção à Serie A. Lá, na temporada 2006/07, mais uma vez tendo uma oportunidade na primeira divisão, o barês teria então uma última chance para se recuperar. Não passou de uma pequena contribuição de seis gols em 29 partidas, não convencendo mais uma vez e consolidando definitivamente que não poderia ter sido tudo aquilo que se esperava.

Presente e futuro

Concretamente um fiasco, Ventola então acabaria assinando um contrato de dois anos com o Torino, time com um forte meio-campo para municiá-lo, com il genio Corini, o campeão mundial Barone e il piccolo principe Rosina. Passados seis meses, il talento di Bari vecchia não conseguiu assegurar sua posição nos onze iniciais da equipe granata, principalmente agora com o retorno de David Di Michele, que antes havia sido suspenso por apostas ilegais. No total, disputou inexpressivas 14 partidas, marcando três gols. Por enquanto, seu jogo mais importante foi pela Coppa Italia, na primeira fase, contra o Rimini, quando começou jogando, atuou 47 minutos e abriu o placar para uma dificílima vitória por 3 a 2.

Impossível dizer que, nem com a competência de Ibrahimovic e a sorte de Inzaghi, o barês vá fazer jus a toda expectativa gerada em seu início de carreira. Hoje, aos 29 anos, ele ainda tem um bom tempo para jogar e render muito mais, porém nada comparado ao que se aguardava de um jogador que chegou a disputar posição com Ronaldo.

Entretanto, é valido dizer que, caso consiga se firmar em algum clube, como pode acontecer agora com o Torino, Ventola tem a chance de se transformar, ou permanecer, um bom e muito útil jogador, atuando na função básica mas não tão simples de empurrar a bola para o gol. O que Nicola precisa, acima de tudo, é se firmar.

Artigo originalmente escrito para o Olheiros, projeto parceiro do QuattroTratti.

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