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Zvonimir Boban: o Zorro que fez diferença no Milan e na independência croata

“Eu, um cara público, preparado para arriscar minha vida, minha carreira e tudo o que a fama podia ter trazido por causa de um ideal, a causa croata”. A frase que poderia muito bem ser encaixada em qualquer discurso político saiu da boca de um dos maiores jogadores croatas de todos os tempos. Idealista, o meio-campista Zvonimir Boban fez prevalecer seus pensamentos e, líder nato dentro de campo, fez história na década que esteve no futebol italiano.

Nascido em Imotski, na antiga Iugoslávia, Boban sempre conviveu de perto com as guerras que arrasaram a região desde a metade do século XX. Em meio aos conflitos armados, desenvolveu duas habilidades: a de pensar em alternativas para a paz e a de jogar futebol. E foi com a segunda que em 1985, com apenas 17 anos, deu início a sua carreira como profissional, no Dinamo Zagreb.

Destaque das categorias de base de seu clube e também da seleção iugoslava, Boban não demorou a assumir a titularidade em sua equipe – o fez em sua segunda temporada como profissional. Em pouco tempo se tornou líder do meio-campo e já era o capitão do time. A rápida ascensão coincidia com sua escalada dentro da seleção de seu país: campeão mundial sub-20 em 1988, logo se tornou um dos astros do time principal da Iugoslávia.

Assim que chegou à Itália, Boban defendeu o Bari (imago)

Apesar do destaque que obteve ao comandar, ainda muito jovem, o meio-campo do Dinamo Zagreb, Boban jamais conseguiu levar a equipe da cidade que viria a ser a capital da Croácia a qualquer título – uma de suas frustrações assumidas. Tal decepção, inclusive, rendeu ao jogador uma das piores fases de sua carreira: em um dos clássicos entre o Dinamo Zagreb e o Estrela Vermelha, Boban atacou, com um chute, um policial sérvio que agredia um torcedor de seu time em meio a uma briga generalizada com torcedores adversários. Suspenso pela federação de seu país, o meio-campista perdeu a Copa do Mundo de 1990 e deixou a Iugoslávia, mas virou herói de uma Croácia sob jugo dos sérvios.

Sua saída da Iugoslávia coincidiu com a decisão da Croácia de se separar da Iugoslávia e se livrar da dominação dos sérvios, tornando-se independente – o que deflagrou uma sangrenta guerra que durou até 1995. Ídolo croata, Boban deixou seu país natal rumo à Itália, onde se tornou jogador do Milan, em 1991. A caminhada com a camisa rossonera, no entanto, não começou de imediato. A presença dos holandeses Ruud Gullit, Frank Rijkaard e Marco Van Basten na equipe de Milão, porém, fez com que o jovem atleta fosse emprestado para o Bari a fim de que adquirisse experiência no futebol italiano.

A experiência pela equipe biancorrossa foi bastante válida para Boban, que na Itália logo recebeu o apelido de Zorro – afinal, falar Zvonimir não deve ser muito fácil. Mantendo o nível de jogo que marcou sua passagem por Zagreb, o meio-campista foi a principal peça do Bari na luta contra o rebaixamento na Serie A na temporada 1991-92 – a mesma na qual o Milan obtinha mais um scudetto. O sucesso do jogador logo em seu ano de estreia no futebol italiano, mesmo com a queda dos bareses, impressionou Fabio Capello, então treinador rossonero, que pediu seu retorno imediato para a equipe de Milão.

Boban e a classe de sempre (imago)

O retorno ao Milan marcou a fase mais vitoriosa de sua carreira. A esperada titularidade no meio-campo milanista demoraria ainda mais um ano para chegar. Apesar de reserva, fez parte do elenco que obteve o título italiano em 1993. A saída de Gullit para a Sampdoria, ao final da temporada, foi a deixa perfeita para que Boban assumisse de vez a vaga de titular rossonero. E logo de cara o croata conseguiu fazer história ao levar o Milan até seu décimo quarto scudetto, número que fez com que o time deixasse para trás a rival Internazionale em quantidade de títulos italianos ganhos.

Titular e campeão, Boban passou então a colecionar títulos em Milão. Cada vez mais identificado com os rossoneri, o meia virou um dos líderes da equipe – ao lado de Paolo Maldini e Franco Baresi – e, em 1994, alcançou sua mais importante conquista como profissional. Jogando no estádio Olímpico de Atenas, o meio-campista foi um dos grandes nomes do massacre do Diavolo em cima do poderoso Barcelona: o 4 a 0 no placar garantiu a Boban sua primeira e única Liga dos Campeões da Europa, competição na qual o Milan se sagrava, naquele ano, pentacampeão.

A sequência do croata com a camisa rossonera continuou excelente após o título da Liga. O vice na mesma competição no ano seguinte, quando o Milan caiu diante do Ajax de Davids, Seedorf e Van der Sar, não abateu o time, que estava entre os mais fortes do mundo e ainda se reforçava com os atacantes George Weah e Roberto Baggio. Ao lado dos astros, Boban comandou o meio-campo rossonero e levou o Milan a mais um scudetto, desta vez em 1996. Naquele mesmo ano, Boban e sua Croácia disputavam a primeira competição internacional de sua história, a Eurocopa disputada na Alemanha. Com boa participação do meia, o time caiu nas quartas-de-final.

De cabeça em pé: visão privilegiada era uma das maiores características do croata (imago)

A conquista do scudetto de 1996, porém, marcou o início de uma surpreendente derrocada do Milan, que amargou dois anos consecutivos com campanhas pífias na Série A. Já mais experiente, Boban seguia como um dos líderes da equipe, mantendo o futebol de alto nível. Nível este que o fez participar, em 1998, de sua primeira Copa do Mundo. E ao lado do atacante Davor Suker, foi um dos grandes responsáveis pela histórica campanha da estreante Croácia, que saiu da França como terceira colocada do torneio, disputando um futebol bastante agradável.

De volta ao Milan após o sucesso na Copa, Boban voltou a faturar o scudetto em 1999, sua última conquista na carreira. Foi justamente neste título em que ele foi mais importante: naquele time, era ele quem ditava o ritmo das jogadas, mostrando habilidade e visão de jogo. Após dez anos seguidos atuando no futebol italiano, o meio-campista deixou o Milan (pelo qual atuou 251 vezes) para atuar pelo Celta de Vigo, da Espanha, clube no qual jogou apenas quatro partidas.

Cansado, Boban voltou à Croácia e, em Zagreb, fez o jogo de sua aposentadoria em 2001, reunindo os amigos que fez durante a carreira como jogador. Após se aposentar, formou-se em História pela Universidade de Zagreb, apesar de nunca ter exercido a profissão. Atualmente, trabalha como comentarista televisivo e, vez ou outra, assina colunas sobre futebol em jornais croatas e italianos.

Zvonimir Boban

Nascimento: 8 de outubro de 1968, em Imotski, antiga Iugoslávia
Posição: meio-campista
Clubes como jogador: Dinamo Zagreb (1985-91), Bari (1991), Milan (1992-01) e Celta de Vigo (2001)
Títulos: Liga dos Campeões (1993-94), Serie A (1992-93, 1993-94, 1995-96 e 1998-99)
Seleção iugoslava: 7 jogos e 1 gol
Seleção croata: 51 jogos e 12 gols

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