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Em curta passagem pela Itália, Dejan Petkovic fracassou no Venezia

Dejan Petkovic foi um dos maiores estrangeiros que atuaram no futebol brasileiro e sobre isso não há dúvidas. O sérvio fez história com as camisas rubro-negras de Vitória e Flamengo, além de ter defendido as camisas de Vasco, Fluminense, Santos e Atlético-MG com honradez. Nos gramados brasileiros, o europeu com jeitão canarinho mostrou enorme qualidade com a perna direita, marcando golaços inesquecíveis, sobretudo em cobranças de falta e de escanteio. O que pouca gente sabe é que o craque teve uma curta passagem pelo futebol italiano.

Antes de ser adotado pelas torcidas do Brasil e de fracassar na Itália, Pet teve destaque no seu país, a antiga Iugoslávia. Começou no Radnicki Nis e logo chamou a atenção do Estrela Vermelha, campeão europeu e mundial, onde foi protagonista em conquistas de um campeonato e duas copas locais. Conhecido como Rambo, Petkovic deixou para trás os conflitos nos Bálcãs e toda a tensão das rivalidades das etnias locais para se transferir para o Real Madrid. Na Espanha, porém, ele não teve bons momentos: foi emprestado pelos merengues a Sevilla e Racing Santander, mas jogou pouco e não fez gols em nenhuma das três equipes.

Depois de um amistoso entre Real Madrid e Vitória, a carreira de Petkovic tomou outro rumo. Os madrilenhos usaram reservas e o iugoslavo arrebentou, chamando a atenção do time baiano, que conseguiu convencê-lo a jogar no Brasil. Nos dois anos em que esteve em Salvador, o Rambo dos Bálcãs se destacou no Brasileirão e conquistou um estadual e uma Copa do Nordeste, virando ídolo da torcida e dando corda ao clichê de que os jogadores da antiga Iugoslávia são “os brasileiros da Europa”.

Pet, que havia voltado a ser convocado para a seleção da Iugoslávia, era cobiçado por diversos times brasileiros e também pelo Atlético de Madrid. No entanto, o pequeno Venezia, da Itália, conseguiu fechar com o jogador de forma inesperada, aproveitando o fato de que o jogador queria se redimir em nível europeu, após os anos negativos na Espanha. De acordo com Paulo Carneiro, presidente do Vitória, os rubro-negros ganharam 4,5 milhões de dólares pela transferência, concretizada em maio, embora Petkovic só embarcasse para a Bota em julho.

Então dono dos lagunari, Maurizio Zamparini (hoje mandatário do Palermo), sempre apostou em talentos de centros menos badalados e em revelações. O Venezia já havia negociado com o rubro-negro baiano no ano anterior e levado o meia Tácio e o zagueiro Fábio Bilica para a Itália e, agora, apostava em Pet, que chegava junto com o japonês Hiroshi Nanami, o norueguês Runar Berg e o austríaco Michael Konsel. O treinador da equipe seria Luciano Spalletti.

Petkovic passou apenas um ano no Venezia e não conseguiu salvar o time do rebaixamento (Tomikoshi Photography)

A equipe do Vêneto, com seu exótico uniforme preto, verde e laranja, havia subido para a primeira divisão no ano anterior, após 30 anos fora da elite. A permanência dos leões alados havia sido garantida por um jogador de características similares a Petkovic, embora o iugoslavo seja destro e seu antecessor fosse canhoto: o uruguaio Álvaro Recoba chegou ao Venezia em janeiro de 1999, emprestado pela Inter, e,
com 11 gols em 19 partidas, levou a equipe à 10ª posição na tabela. Em sua apresentação, Rambo, novo camisa 10 do time, declarou não sentir o peso de substituir Recoba e comentou que estava pronto para dar a volta por cima na Europa, depois de ter se tornado um dos melhores jogadores do Campeonato Brasileiro.

O início de Pet foi animador: fez boas partidas contra Udinese, Torino e Roma, chegando a marcar um golaço contra os romanos, no qual entortou Antônio Carlos Zago e bateu no canto, sem chances para Francesco Antonioli. A equipe, no entanto, não ia bem: somou somente um ponto nestas partidas. Dali em diante, inclusive, o futebol de Petkovic caiu e ele só voltaria a marcar novamente contra a Udinese, em jogo das oitavas de final da Coppa Italia. Ao todo, Rambo disputou apenas 13 partidas pelos arancioneroverdi na Serie A, sendo substituído em sete delas e começando uma no banco, chegando ao total de 872 minutos em campo. Seu retrospecto foi de oito derrotas, três empates e apenas dois triunfos. No final da temporada, é claro, o Venezia acabaria rebaixado. Mas Pet teria um destino diferente.

Ainda valorizado pelo desempenho no Vitória e infeliz com a má fase do seu time, ele assinou um contrato com o Flamengo no dia 27 de dezembro. O clube carioca, em parceria com a ISL, pagou cerca de 6 milhões de dólares ao Venezia, que ainda conseguiu ver seu investimento compensado – ou o presidente Zamparini, que dois anos depois deixou o clube quase falido e investiu na compra do Palermo.

O resto da carreira do sérvio é história: virou ídolo no Flamengo e ganhou títulos estaduais e até um brasileiro pelo time da Gávea, e também rodou pelo mundo, tendo destaque por onde passou. No entanto, ele tem um arrependimento, que declarou a uma entrevista a André Rizek, da Revista Placar: segundo Pet, se ele tivesse permanecido no Venezia, um time “dez vezes mais fraco que o Flamengo”, continuaria a ser chamado por Vujadin Boskov para a seleção da Iugoslávia e jogaria a Euro 2000. Não deu. Talvez o lugar em que o mais brasileiro dos sérvios brilharia teria de ser mesmo o maior país da América do Sul.

Dejan Petkovic
Nascimento: 10 de setembro de 1972, em Majdanpek, Sérvia
Posição: meia-atacante
Times em que atuou: Radnicki Nis (1988-92), Estrela Vermelha (1992-95), Real Madrid (1995, 1996 e 1997), Sevilla (1996), Racing Santander (1997), Vitória (1997-99), Venezia (1999-2000), Flamengo (2000-02 e 2009-11), Vasco (2002-03 e 2004), Shangai Shenhua (2003), Al-Ittihad (2005), Fluminense (2005-06), Goiás (2007), Santos (2007) e Atlético-MG (2008)
Títulos conquistados: Campeonato Iugoslavo (1995), Copa da Iugoslávia (1993 e 1995), Campeonato Espanhol (1997) e Supercopa da Espanha (1997), Campeonato Baiano (1997 e 1999), Copa do Nordeste (1999), Campeonato Carioca (2000 e 2001), Taça Rio (2000 e 2003), Taça Guanabara (2001 e 2003), Copa dos Campeões (2001), Liga dos Campeões Árabe (2005), Copa dos Campeões da Ásia (2005) e Campeonato Brasileiro (2009)
Carreira como treinador: Atlético Paranaense sub-23 (2014) e Criciúma (2015)
Seleção iugoslava: 7 jogos e um gol

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