Jogadores Técnicos

Brescia e Roma: os anos italianos de Pep Guardiola

Que Pep Guardiola é um dos maiores técnicos da história do futebol nós já sabemos. O catalão revolucionou o futebol a partir do Barcelona e continua encantando o mundo através de seus conceitos táticos, aplicados pelo elenco do Bayern Munique. Guardiola, que em apenas nove anos de carreira já conquistou 20 títulos, dentre os quais cinco ligas nacionais, três mundiais e dois europeus, será adversário da Juventus nesta quarta, nas oitavas da Liga dos Campeões 2015-16. Dessa forma, aproveitamos para relembrar a passagem de duas temporadas do ex-jogador pela Serie A.

Depois de vencer praticamente tudo com o Barcelona, Pep decidiu rumar para a Itália em busca de uma nova aventura com o Brescia, treinado pelo folclórico Carlo Mazzone. Sua chegada ao time do presidente Gino Corioni tinha um objetivo claro: substituir Andrea Pirlo. O craque italiano ainda tinha 22 anos e teve sua segunda passagem pelo Brescia no primeiro semestre de 2001. Trequartista de ofício, Mazzone o transformou em regista, para receber a bola de frente de frente para o campo de ataque, organizar o jogo e sustentar o veterano Roberto Baggio, responsável pela fantasia no sistema de Mazzone.

Guardiola teve duas passagens pelo Brescia (Allsport)

O jovem Pirlo foi muito bem na segunda metade de 2000-01, mas estava emprestado pela Inter, onde não tinha espaço com Héctor Cúper, e o clube de Massimo Moratti decidiu negociá-lo com o rival Milan. Brescia e Mazzone perderam seu regista, mas foram espertos ao ir atrás de Pep Guardiola, de 31 anos, e que estava de saída após 10 anos no clube em que cresceu e no qual mais tarde se tornaria ídolo também como treinador.

A chegada do catalão para substituir o garoto que virou ídolo no Milan foi uma escolha lógica por tudo que Pep tinha feito no Barcelona. Sua passagem mais memorável foi no Dream Team, quando treinado por Johan Cruyff. O meio-campista da base, entre tantos craques, virou protagonista por ser o “maestro da orquestra”, ou, em italiano, o regista. Assim, Guardiola foi considerado um dos melhores de sua geração, e faturou 17 títulos como titular dos blaugrana.

Que presentão, hein, capitão Guardiola? Nem o Zé Maria acreditou (Getty)

Na Itália, Pep continuou fazendo boas partidas e sendo sempre o dono da meia-cancha, graças a seu posicionamento e sua visão de jogo única. O bom início de temporada, entretanto, foi interrompido por punição por uso de uma substância proibida, a nandrolona, detectada em um exame antidoping, que o afastou dos gramados por quatro meses. Anos depois, mesmo após ter cumprido a suspensão, Guardiola foi declarado inocente. O espanhol voltou a campo no final de março de 2002 e, mesmo com o tempo inativo, manteve as atuações em alto nível. Ele estava cotado para representar a Espanha na Copa naquele ano, mas lesionou os ligamentos do joelho e ficou fora de combate.

Quando tudo parecia dar errado, a sorte voltou a sorrir para Pep: após a experiência com o clube lombardo, Guardiola ganhou uma nova chance em um time grande, mesmo tendo atuado em apenas 13 partidas pelos brescianos. O regista foi contratado pela Roma, que tinha sido vice-campeã em 2001-02, ficando apenas um ponto atrás da Juventus e batendo na trave pelo bicampeonato. mas não obteve sucesso na capital, jogando muito pouco. Guardiola foi preterido por Fabio Capello, que preferiu optar por Damiano Tommasi e os brasileiros Lima e Emerson como bases do trivote de meio-campo do 3-5-2 romanista.

O gênio catalão teve curta passagem pela Roma, mas acabou encarando o Real Madrid mesmo assim (EMPICS/Getty)

Depois de somente oito jogos pela Roma, Guardiola retornou ao Brescia no mercado de janeiro. Na Lombardia, novamente foi companheiro de Baggio, com quem dividiu a liderança do time e até a faixa de capitão em alguns momentos. Nos dois anos em que o Divino Codino e Pep jogaram juntos, o time rodinelle conseguiu a segunda melhor classificação na história: um nono lugar em 2003. Não à toa, até hoje o catalão declara seu carinho pelo Brescia, pelo técnico Mazzone e pelo presidente Corioni.

O carinho se justifica: foi pela Leonessa que Guardiola teve seu último momento em um grande campeonato. Apesar das poucas partidas com a camisa do Brescia (29 em uma temporada e meia), o camisa 28 teve grande representatividade para o time de Mazzone. Pep ainda declarou em entrevistas que Corioni o contratou quando poucos acreditavam que ele ainda pudesse render em alto nível.

Pela Roma, Pep marca Baggio, que foi seu colega no Brescia (Getty)

Com Baggio dedicado aos últimos metros do campo e aos gols, Guardiola era o construtor do time, quem fazia a saída de bola, segurava a posse e controlava o jogo – o meia também desequilibrava, com passes verticais para os alas e atacantes. Foram várias as inversões de jogo para as ultrapassagens dos laterais do 4-3-1-2 ou 3-4-1-2 de Mazzone e bolas longas para o trabalho de pivô de Luca Toni ou Igli Tare, como pode se observar neste vídeo de Lazio-Brescia pela 33ª rodada da temporada 2002-03, em maio de 2003.

Em comparação a como já jogava na Espanha, Guardiola não evoluiu na concepção do seu jogo, cumprindo a mesma função e executando jogadas próximas dos tempos de Barcelona, mas teve de se adaptar a treinadores mais defensivistas. Na Roma, acabou não tendo espaço com o rígido Capello, mas deixou a sensação do que poderia agregar ao time de Francesco Totti. Certamente absorveu mais dos ensinamentos de Mazzone – principalmente em relação a como usar as peças à disposição. Mesmo que tenha sido pouco, ao menos é comovente ver a humildade e carinho com os quais um dos maiores técnicos da história trata um veterano da Serie A.

*Colaborou Arthur Barcelos

Josep “Pep” Guardiola Sala
Nascimento: 18 de janeiro de 1971, em Santpedor, Espanha
Posição: meia
Clubes como jogador: Barcelona B (1990-92), Barcelona (1990-2001), Brescia (2001-02 e 2003), Roma (2002-03), Al-Ahli (2003-05) e Dorados (2005-06)
Títulos como jogador: Copa dos Campeões (1992), Supercopa Uefa (1992 e 1997), Recopa (1997), La Liga (1991, 1992, 1993, 1994, 1998 e 1999), Copa do Rei (1997 e 1998), Supercopa da Espanha (1991, 1992, 1994 e 1996) e Segunda Divisão B (1991)
Clubes como técnico: Barcelona B (2007-08), Barcelona (2008-12) e Bayern Munique (2013-hoje)
Títulos como técnico: Mundial Interclubes Fifa (2009, 2011 e 2013), Liga dos Campeões (2009 e 2011), Supercopa Uefa (2009, 2011 e 2013), La Liga (2009, 2010 e 2011), Bundesliga (2014 e 2015), Supercopa da Espanha (2009, 2010 e 2011), Copa do Rei (2009 e 2012), Copa da Alemanha (2014) e Tercera División (2008)
Seleção espanhola: 47 jogos e 5 gols
Seleção catalã: 7 jogos

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