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Só as lesões pararam Marco van Basten, o inesquecível craque do Milan

O futebol holandês foi devidamente apresentado ao mundo a partir da década de 1970, quando por duas Copas do Mundo consecutivas a Laranja Mecânica encantou os amantes do futebol. Marcada por não conquistar nenhum título, a seleção laranja viu essa sina não se cumprir apenas uma vez, depois que o esquadrão de Cruyff e Krol foi desmontado. No comando da Holanda que pela primeira e única vez levantou um trófeu, estava Marco van Basten.

Craque de técnica apurada e faro de gol poucas vezes visto na história do futebol, van Basten começou logo cedo sua carreira dentro do esporte. Mais alto do que a maioria dos meninos de sua idade, logo aos sete anos fazia parte do UVV, pequena equipe amadora de Utrecht, cidade na qual nasceu. Passou três anos por lá, sempre se destacando entre os garotos e chamando a atenção de outras equipes. O Elinkwijk, também daquela cidade, foi o responsável por notar o talento e apostar no jovem atacante.

Ainda nas ligas amadoras para jovens, van Basten passou a ser conhecido por ser um matador que conseguia construir suas jogadas a partir de dribles rápidos e desconcertantes. Não tardou para que o Ajax, um dos maiores clubes da Holanda, se interessasse por seu futebol. As categorias de base que anos antes haviam formado a espinha dorsal da Laranja Mecânica tinham em mãos, no começo da década de 1980, mais uma joia que encantaria o mundo.

A passagem entre os jovens do Ajax não durou muito e, com apenas um ano de clube, van Basten já fazia sua estreia entre os profissionais. No dia 3 de abril de 1982 o garoto entrou no decorrer de uma partida no lugar de ninguém menos do que o já veterano Cruyff, que via sua carreira dar os últimos suspiros. O peso da responsabilidade de ser o futuro do clube em nada pesou para o atacante, que logo em seu primeiro jogo anotou o seu primeiro gol. Ainda naquela temporada, figurando entre os reservas, anotaria mais nove vezes no Campeonato Holandês.

Sendo preparado para assumir a titularidade aos poucos, van Basten foi bicampeão holandês sem participar efetivamente das conquistas. As participações, mesmo que escassas, porém, deram confiança ao jovem atacante, que em seu terceiro ano como profissional alcançou a vaga de titular, conquistando também o posto de artilheiro da Eredivisie daquele ano, vencido pelo Feyenoord, com impressionantes 28 gols feitos em apenas 26 partidas disputadas. A impressionante marca rendeu a van Basten sua primeira chance na seleção principal da Holanda. A estreia, em 7 de setembro de 1983, não teria gols do atacante, que só marcaria em seu segundo jogo, no clássico local contra a Bélgica.

No auge da carreira, ninguém parava van Basten (Interleaning)

Fazer gols, então, virou um hábito mais do que comum para van Basten, que ainda foi artilheiro do campeonato local por mais três vezes consecutivas, sem no entanto conseguir se sagrar campeão em nenhuma dessas oportunidades. Pelo Ajax, o atacante ganhou ainda três Copas da Holanda e uma Recopa Europeia. A Chuteira de Ouro conquistada na temporada de 1985-86, quando anotou 37 gols em 29 jogos, o credenciou definitivamente como um dos melhores jogadores do mundo à época. A consagração, porém, ainda demoraria alguns anos para acontecer.

Encantado com o futebol do holandês, o Milan foi a equipe responsável por tirar o jogador do Ajax, em 1987. A chegada de van Basten depois de uma pagamento de 2 milhões de liras daria início a uma nova era no time de Milão, recém-comprado por Silvio Berlusconi. O histórico Milan que era comandado pelo então “novato” Arrigo Sacchi e contava com Baresi, Maldini e também com outros dois holandeses, Gullit e Rijkaard, marcaria para sempre a história do futebol como uma das equipes mais vitoriosas de todos os tempos.

A primeira temporada na Itália, porém, não foi das mais felizes para van Basten. Apesar de conquistar o scudetto com o Milan, o atacante sofreu com as lesões e participou de apenas 19 jogos, marcando escassos oito gols. A desconfiança, porém, foi deixada de lado logo ao final daquela temporada, quando o matador foi o grande craque da Eurocopa de 1988, disputada na então Alemanha Ocidental. Artilheiro com cinco gols e melhor jogador da competição, van Basten foi essencial para o título holandês, único conquistado pelos holandeses até hoje, marcando inclusive um dos gols mais bonitos da história do futebol na final diante da União Soviética.

Devidamente recuperado, van Basten voltou ao Milan para ser referência. Atuando como atacante fixo e municiado por Gullit, Donadoni e Ancelotti, o matador voltou a marcar os gols de sempre e foi essencial para a conquista do bicampeonato da Copa dos Campeões em 1988-89 e 1989-90, sobre Steaua Bucareste e Benfica. Em 1989-90, van Basten marcou 32 gols na temporada – 19 na Serie A e 9 na Copa dos Campeões, incluindo dois na final contra os romenos -; na temporada seguinte repetiu os números na Itália e atingiu a artilharia do campeonato, dando o título para o Milan frente ao Napoli de Maradona, Careca e Giordano.

Os dois troféus, que renderam ao Milan o apelido de L’Invincibile, foram responsáveis por espantar qualquer dúvida sobre o rendimento de van Basten fora da Holanda, tendo sido ele um elemento essencial para as duas conquistas. A grande participação na conquista da Eurocopa de 1988 e da Copa dos Campeões na temporada que começou logo em seguida colocaram o atacante no patamar mais alto que um jogador poderia conquistar individualmente: o de vencedor da Bola de Ouro, da revista France Football, por duas vezes consecutivas.

O rei e seus fieis escudeiros: van Basten foi o grande líder do Milan multicampeão de Sacchi, e faturou títulos coletivos e prêmios individuais, como a Bola de Ouro (Interleaning)

Com essas credenciais, o atacante ainda seria essencial para a conquista da Copa Intercontinental contra os paraguaios do Olímpia, em 1990, quando não marcou, mas participou de dois gols rossoneri. Já depois da saída de Sacchi – que, dizem os boatos, não se dava bem com o holandês – e com Fabio Capello no comando, van Basten foi importante para mais dois scudetti milanistas: em 1991-92, o atacante marcou contra a Inter e realizou três triplettas, chegando a 25 gols marcados, que lhe valeram a artilharia.

Na temporada seguinte, 1992-93, van Basten passava por fase exuberante: chegou ao ponto de fazer quatro gols contra o Napoli, em pleno San Paolo, e outros quatro contra o IFK Gotemburgo, na já renomeada Liga dos Campeões. No decorrer desta última temporada, foi eleito novamente melhor jogador do mundo em 1992 – desta vez pela Fifa e também pela France Football, fato alcançado apenas por Cruyff e Michel Platini, àquela altura. A brilhante carreira de van Basten, porém, seria interrompida de forma lenta a partir de 1993. Logo após ganhar a Bola de Ouro, o atacante fez cirurgia no tornozelo, que o afastou dos gramados por quatro meses e meio. Ainda voltou a tempo de disputar a final da Liga dos Campeões, conquistada pelo Olympique de Marseille, de Völler e Desailly.

Em junho, o jogador voltou a se operar para tentar voltar a campo. Dois anos de luta contra seu próprio corpo foram suficientes para que van Basten desistisse: não tinha mais condições de jogar futebol e, assim, abandonou a carreira de profissional com apenas 30 anos, idade que para muitos é aquela na qual o jogador atinge sua maturidade técnica. Seu jogo de despedida, em 1995, emocionou todos os espectadores na partida válida pelo Torneio Silvio Berlusconi. Sem mais condições de jogar, van Basten ficou longe de qualquer relação formal com o futebol por quase uma década.

Um dos últimos atos do mitológico atacante aconteceu diante do Marseille (Interleaning)

Após muito apelo popular, o lendário atacante retomaria seu contato com o esporte em 2004, quando após passagem como treinador das categorias de base do Ajax foi chamado para ser técnico da seleção holandesa. A queda de produção que rendeu aos holandeses a ausência na Copa de 2002 era o principal motivo para o apelo a van Basten, considerado o único que poderia devolver à Laranja o futebol ofensivo que a consagrara em décadas passadas.

O trabalho de van Basten ao longo de quatro anos rendeu à Holanda um retorno à Copa, em 2006, quando o time laranja sucumbiu diante de Portugal em uma das partidas mais violentas daquele Mundial, que terminou conhecida como Batalha de Nuremberg. A eliminação teoricamente precoce não custou o cargo ao ex-jogador, que ainda classificou o time para a Euro de 2008, disputada na Áustria e na Suíça. Após uma primeira fase avassalora, com três vitórias em três jogos em um grupo que contava com a campeã mundial Itália e a vice França, os holandeses caíram novamente na segunda fase, dessa vez diante da surpreendente Rússia.

O último ato de van Basten como treinador foi uma passagem apagada pelo Ajax entre 2008 e 2009, que terminou após o time não obter vaga na Liga dos Campeões. O prestígio do ex-jogador, entretanto, segue alto, e caso Bruno de Carvalho vença as eleições para a presidência do Sporting, depois de amanhã, o holandês será anunciado como novo comandante da equipe lisboeta.

Marco van Basten
Nascimento: 31 de outubro de 1964, em Utrecht, Holanda
Posição: atacante
Clubes: Ajax (1982-1987) e Milan (1987-1993)
Títulos: 4 Serie A (1987-88, 1991-92 e 1993), 4 Supercopas Italianas (1988, 1992, 1993 e 1994), 3 Liga dos Campeões (1988-89, 1989-90, 1993-94), 2 Mundiais Interclubes (1989, 1990), 2 Supercopas Europeia (1989, 1990 e 1994), 3 Campeonatos Holandeses (1982, 1983 e 1985), 3 Copas da Holanda (1982-1983, 1985-1986, 1986-1987), 1 Eurocopa (1988) e 1 Recopa Europeia (1986-87)
Seleção holandesa: 58 jogos e 24 gols

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