Brasileiros no calcio

Silas, um campeão que não deixou saudade na Serie A

Camisa 10 na Mundial de 1990, Silas foi um dos tantos brasileiros que chegaram badalados ao futebol italiano, mas não conseguiram vingar. História comum nos dias de hoje, mas nem tanto nos anos 1980 e 1990, quando havia limite de estrangeiros na Serie A e, no melhor campeonato do mundo à época, entravam apenas os melhores.Silas começou a carreira como profissional em 1985, no São Paulo. Integrante dos “Menudos do Morumbi”, time que ganhou fama na década de 1980 com jogadores da base tricolor, barrou Pita na final do Campeonato Paulista de 1985,  assumiu a titularidade do tricolor, em um time que tinha ainda Müller. Naquele mesmo ano, Silas foi eleito o melhor jogador do Mundial Sub-20, disputado na União Soviética, e que foi concluído com título brasileiro.

Antes de chegar à Itália, o meia teve boa passagem pelo futebol português, no Sporting, e uma passagem relâmpago pelo Central Español, do Uruguai, na tentativa de se livrar de um imbróglio contratual que o impediu de atuar por mais tempo no José Alvalade. Pela Seleção, Silas já havia disputado as Copas América de 1987 e 1989 – na última, fez parte do elenco campeão. O ex-jogador são-paulino tinha, ainda, duas Copas do Mundo no currículo: as de 1986 e 1990. Justamente a última, disputada na Itália, era seu calcanhar de Aquiles.

Homem de confiança de Sebastião Lazaroni por causa das boas atuações na Copa América e nas Eliminatórias para a Copa, Silas não tinha boas lembranças dos campos italianos. Junto de toda a seleção, fracassou no Mundial. E para piorar, o ex-jogador do São Paulo foi um dos mais criticados. Ainda assim, chamou atenção do modesto Cesena, clube que fazia sua quarta temporada consecutiva na Serie A (recorde da equipe) e queria apenas uma classificação final sem maiores dificuldades.

Silas chegou ao clube em outubro, e ao lado de Amarildo (ex-Lazio), Alessandro Teodorani, Massimo Ciocci e Alberto Fontana, era um dos destaques da equipe comandada pelo então promissor Marcello Lippi. Trequartista de ofício, o brasileiro não conseguiu ser a promessa que os italianos esperavam. Ele estreou contra o Bologna, mas marcou o primeiro no seu segundo jogo, contra o Torino. Um golaço de falta.

O brasileiro fez alguns bons jogos e certamente elevou o nível técnico da equipe de Lippi. No entanto, torcedores e a mídia, à época, acharam que a entrada de Silas acabou desmontando o equilíbrio tático do Cesena lippiano – tanto é que o treinador acabou demitido na 17ª rodada.

Tido como um jogador lento para construir jogadas e para recompor na marcação, Silas não conseguiu compensar com a qualidade técnica elevada, que aparecia em lampejos – algo pouco agradável para uma torcida acostumada com jogadores pouco brilhantes, mas regulares. Ao mesmo tempo, vale ressaltar a fragilidade da defesa romanhola, terceira pior do campeonato. Dessa forma, o rebaixamento tornou-se inevitável. Com apenas cinco vitórias, 19 pontos e três gols de Silas (contra Torino, Pisa e Genoa), os cavalos marinhos retornaram à Serie B.

Silas não conseguiu sucesso com a camisa da Sampdoria (Allstar/imago)

Apesar das dificuldades de sua primeira temporada, Silas conseguiu terminar valorizado nos 26 jogos em que realizou e, a pedido de Vujadin Boskov, foi contratado pela atual campeã, Sampdoria. Como principal compra da temporada, e na companhia de Toninho Cerezo, Gianluca Vialli, Roberto Mancini e Gianluca Pagliuca, o jogador começou bem, sendo titular na conquista da Supercoppa Italiana e marcando contra o Cagliari na primeira rodada da Serie A (apesar da derrota por 3 a 2), mas logo ganhou o rótulo de pé-frio.

Com Silas em campo, a Samp raramente vencia. Diz a lenda que o xerifão Pietro Vierchowod, líder da zaga doriana, chegou a comandar um ritual para tirar o mal olhado do brasileiro, com uso de muito sal e alho da Apúlia. Curioso, já que o jogador foi um dos primeiros expoentes do grupo Atletas de Cristo no futebol italiano – inclusive, o grupo evangelista de jogadores cristãos é, até hoje, expressivo no futebol da Bota, e é uma das exportações do Brasil para a Itália.

De qualquer forma, a superstição da torcida parecia ter lógica: a campanha da campeã não foi muito boa, e o clube não foi além da sexta colocação. Silas perdeu espaço em meados da temporada, mas jogou muitas partidas na Serie A (31 ao todo). No entanto, a Samp fez grande campanha na Copa dos Campeões, competição na qual Silas pouco jogou. Do banco, o brasileiro viu os blucerchiati serem derrotados apenas na final para o Barcelona, por 1 a 0, gol de Ronald Koeman, na prorrogação. Pela Samp, foram 35 jogos e cinco gols anotados. Em Gênova, o brasileiro também ficou marcado pela lentidão em campo.

Após a temporada, Silas voltou ao Brasil, onde jogou por Internacional e Vasco, antes de se aventurar por Japão e Argentina. Em Buenos Aires, o brasileiro teve um dos momentos mais gloriosos da carreira, vestindo a camisa do San Lorenzo. Conquistou um Campeonato Argentino e tornou-se um dos ídolos da equipe de Boedo na década de 1990, embora tenha atuado no clube apenas entre 1995 e 1997.

Retornou ao São Paulo, em 1997, mas entrava num momento decadente na carreira. Aceitou uma nova proposta japonesa, dessa vez do Kyoto Purple Sanga, clube em que jogou dois anos. Passou ainda por Atlético-PR e clubes do interior de São Paulo, até encerrar a carreira, em 2004, aos 39 anos, na Inter de Limeira.

Em 2006 iniciou a carreira fora das quatro linhas, como assistente técnico do Paraná, que era treinado pelo amigo Zetti. Seu primeiro trabalho como profissional foi no Fortaleza, em 2007, após a demissão do amigo. Na sequência comandou o Avaí, projetando-se para o cenário do futebol. Ganhou destaque no Grêmio, mas sua passagem negativa pelo Flamengo brecou a carreira promissora como técnico. Hoje trabalha no Ceará, onde recuperou um pouco do seu prestígio, com um bom trabalho e o título da Copa do Nordeste.

Paulo Silas do Prado Pereira
Nascimento: 27 de agosto de 1965, em Campinas (SP)
Posição: Meia
Clubes em que atuou: São Paulo (1985-88 e 1997-98), Sporting Lisboa (1988-90), Central Español (1990), Cesena (1990-91), Sampdoria (1991-92), Internacional (1992-93), Vasco da Gama (1994-95), Kashiwa Reysol (1995), San Lorenzo (1995-97), Kyoto Purple Sanga (1998-2000), Atlético-PR (2000), Rio Branco-SP (2001), Ituano (2001), América-MG (2001-02), Portuguesa (2002) e Inter de Limeira (2003-04)
Títulos como jogador: Supercoppa Italiana (1991), Campeonato Paulista (1985, 1987 e 1988), Campeonato Gaúcho (1986), Campeonato Carioca (1994), Campeonato Paranaense (2000), Copa do Brasil (1992), Campeonato Brasileiro (1986), Campeonato Argentino (1995), Copa do Mundo Sub-20 (1985) e Copa América (1989).
Clubes como treinador: Fortaleza (2007-08), Avaí (2008-09 e 2011), Grêmio (2010), Flamengo (2010), Al Arabi (2011-12), Al Gharafa (2012), Náutico (2013), América-MG (2013-14), Portuguesa (2014) e Ceará (2015)
Títulos como treinador: Campeonato Catarinense (2009), Campeonato Gaúcho (2010), Copa Sheikh Jassem (2011), Copa Emir (2012) e Copa do Nordeste (2015)
Seleção brasileira: 38 jogos e 1 gol

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