Brasileiros no calcio

Tita viveu ano mágico na Itália, mas caiu para a Serie B

Ídolo de Flamengo, Vasco, Grêmio e Internacional, Tita é um dos tantos futebolistas brasileiros que escolheram a Itália na década de 1980. Com o apelido herdado de seu pai, o meia-atacante, batizado como Milton Queiroz da Paixão, fez carreira sólida no Brasil, e teve rápida passagem pelo futebol europeu. Na Itália, passou apenas um ano, e em um time pouco expressivo. O bastante para ser lembrado.

Tita foi peça fundamental da equipe flamenguista campeã mundial de 1981, ao lado de Zico. No próprio time rubro-negro, Tita se formou como meio-campista, mas precisou ser adaptado como ponta-direita, por causa do Galinho, de Andrade e Adílio. Depois de cinco anos no Flamengo, o meia-atacante ganhou uma Libertadores pelo Grêmio, mas saiu antes de o tricolor gaúcho faturar seu Mundial.

Em 1987, veio a hora da mudança. Tita, que ainda passou por Internacional e Vasco, já tinha sua carreira consolidada nos dois grandes rivais cariocas e gaúchos, e acumulou mais de dez títulos no futebol nacional, incluindo duas Copas Libertadores e uma Taça Intercontinental. Com esse currículo, o carioca foi contratado pelo Bayer Leverkusen. No clube alemão, ele fez grandes apresentações e ao final da temporada ajudou na conquista do título da Copa Uefa, em cima do Espanyol.

Com a alcunha de campeão do segundo maior torneio europeu, o brasileiro foi contratado pelo Pescara, recém-promovido à Serie A, após oito anos na segundona. Eram tempos de sonho para os golfinhos do Abruzzo, que eram comandados pelo técnico Giovanni Galeone, reconhecido até hoje como o principal da história biancoazzurra. Logo na volta à elite, o time conseguiu uma histórica permanência na Serie A – nas duas outras vezes que disputou o principal campeonato do país até aquele momento, caiu.

Tita chegou ao Pescara no ápice daquele time, na temporada que poderia significar a consolidação dos golfinhos na Serie A. A aventura italiana aconteceria ao lado dos compatriotas Júnior e Edmar. Já com história no Torino, Júnior era uma das referências do time, mas Tita chegou como sendo o homem-gol das assistências de Zico. Romário e Renato Gaúcho também foram sonhos da diretoria – que acabaram não se concretizando – para uma temporada cuja expectativa eram as melhores possíveis. Afinal, o Pescara estava confiante pela mudança de patamar, tinha dois craques brasileiros no time e ainda praticava um futebol bastante agradável e ofensivo, conhecido na Itália como “calcio champagne”.

Porém, o começo da temporada foi quase trágico para o Pescara e para Tita: o tridente brasileiro não funcionava bem. O empate com a Roma e a derrota para um Milan estelar podem até ter sido normais, mas a derrota para o Napoli, por incríveis 8 a 2 – a sacolada teve direito a tripletta de Andrea Carnevale, dois de Diego Maradona e de Careca e mais um do volante Alemão. Enquanto Edmar e Júnior deixavam suas marcas, Tita só foi anotar o primeiro tento na 10ª rodada, no dia 18 de dezembro. Primeiros, aliás, e importantes: o Pescara perdia por 2 a 0 para a Lazio quando o atacante entrou em campo, no intervalo. Tita marcou os dois gols do empate e ainda teve outras duas chances claras de virar.

No Pescara, Tita foi colega de Júnior e teve Galeone como treinador (Getty)

Aos poucos, a realidade biancoazzurra foi mudada. Terminar no meio da tabela seria um luxo e a equipe até conseguiu virar o turno em uma posição intermediária. Tita ajudou, marcando um gol na vitória sobre o Bologna e outro em um empate contra a Juventus, em Turim. O grande momento do brasileiro na Itália, no entanto, aconteceu na estreia do returno, quando marcou os três gols na vitória contra a Roma no Olímpico. Com isso, o brasileiro anotou cinco de seus 16 gols em solo italiano no estádio da capital.

Dentre toda a temporada, a imprensa italiana questionou Tita sobre uma possível saudade do Brasil – o assunto estava em voga na época, e havia certo preconceito com jogadores brasileiros, por causa da falta de adaptação de alguns atletas, como Renato Gaúcho e Andrade, da Roma. Tita sempre negou os boatos e respondeu em campo, sagrando-se o artilheiro dos golfinhos na Serie A, com 9 gols, e em toda a temporada, com 16.

Apesar dos esforços dos jogadores, que fizeram uma boa campanha – Júnior, por exemplo, foi eleito o melhor estrangeiro da temporada 1988-89 na Itália –, o Pescara acabou sendo rebaixado. Os delfini ficaram com 27 pontos, apenas dois a menos que cinco times fora da zona de descenso. Foi um torneio bem equilibrado na parte baixa da tabela.

Depois da queda, Tita não hesitou em voltar à sua terra natal para jogar no Vasco, onde viria a ser campeão brasileiro de 1989. A boa segunda passagem pelo cruz-maltino levou o meia-atacante carioca para a Copa do Mundo, onde voltou à Itália para uma nova desilusão: do banco, sem entrar em campo, Tita amargou a péssima campanha brasileira, toda realizada em Turim. Talvez, se a Seleção tivesse jogado em Roma, a sorte teria sido maior, já que Tita tinha o Olímpico como um talismã.

Depois do Mundial, Tita ainda rodou por México, se tornando um dos ídolos do León, e Guatemala, onde encerrou a carreira em 1997. Após pendurar as chuteiras, o brasileiro passou dois anos longe dos campos antes de voltar à ativa, dessa vez como treinador. Primeiro no Vasco e depois por inúmeros clubes do Rio de Janeiro, Ásia e México.

Encerrou a carreira à beira do campo em 2012, no Necaxa, mas até hoje é lembrado, não apenas no país centro-americano, como nas duas principais equipes do Rio de Janeiro. E, claro, na Itália, onde fez parte do final de um ciclo de sonhos no Abruzzo.

Milton Queiroz da Paixão, o Tita
Nascimento: 1 de abril de 1958, no Rio de Janeiro (RJ)
Posição: meio-campista e atacante
Clubes em que atuou: Flamengo (1977-82 e 1983-85), Grêmio (1983), Internacional (1985-86), Vasco (1987 e 1989-90), Bayer Leverkusen (1987-88), Pescara (1988-89), León (1990-94 e 1995-96), Puebla (1994-95) e Comunicaciones (1997-98)
Títulos conquistados: Campeonato Carioca (1978, 1979, 1981 e 1987), Taça Guanabara (1979, 1980, 1981, 1982 e 1987), Campeonato Brasileiro (1980, 1982 e 1989), Campeonato Gaúcho (1985), Campeonato Mexicano (1991-92), Campeonato Guatemalteco (1997-98), Copa Libertadores da América (1981 e 1983), Copa Uefa (1987-88), Copa Intercontinental (1981), Jogos Panamericanos (1987) e Copa América (1989)
Clubes como treinador: Vasco (2000 e 2008), Americano (2000), Urawa Reds (2001), El Paso Patriots-EUA (2002), América-RJ (2002), Bangu (2003), Caxias (2004), Remo (2005), Campinense (2005), CFZ-RJ (2006), Resende (2006), Tupi (2007), Macaé (2007), León (2011-12) e Necaxa (2012)
Seleção brasileira: 32 jogos e 6 gols

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2 comentários

  • Boa matéria, exceto pelo “duas principais equipes do Rio de Janeiro”. O Rio tem quatro grandes, e tratar Flamengo e Vasco como os dois principais é uma tremenda bola fora.

  • Titã atuava pelo Grêmio no primeiro semestre de 1983, retornou apenas em agosto de 1983 após a libertadores devido a saídade Zico para a,Itália. Não foi campeão brasileiro no ano de 1983 pelo Flamengo.

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