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Bom volante, Paulo Sousa foi um do pilares da Juve que levantou a Europa nos anos 90

Coadjuvante da seleção que reergueu o futebol português, Paulo Sousa nunca fez os gols de Pauleta, deu os passes de Rui Costa ou teve o mesmo brilho que Luís Figo. No entanto, o volante era fundamental para o controle do meio-campo, demonstrando inteligência e versatilidade, além de ser efetivo, de área a área, com passes precisos e habilidade na saída de jogo, com um estilo cadenciado. Com futebol de qualidade, rodou por grandes clubes, não apenas em sua terra natal, mas também por Alemanha e, sobretudo, Itália, onde viveu seu período épico na Juventus, vencedora da Liga dos Campeões em meados dos anos 1990.

Mas, antes de chegar à Turim, Paulo Sousa trilhou seu caminho no Benfica. E foi o destaque, primeiro na base, depois na equipe principal dos Encarnados, que levou o promissor meio-campista à disputa de sua primeira competição vestindo a camisa lusa. Ao lado de alguns jogadores de uma das melhores gerações portuguesas, como João Pinto e Fernando Couto, ajudou na conquista do Mundial Sub-20 de 1989.

Desde então, sua carreira decolou. Com apenas 20 anos assumiu a titularidade do clube benfiquista, por onde atuou em mais três temporadas, ao lado de João Pinto, Paulo Futre e Rui Costa, antes de se envolver numa polêmica transferência ao rival lisboeta, o Sporting. No clube alviverde fez uma temporada fantástica, jogando com Figo, e despertou o interesse da Juventus.

O português chegou à Itália em uma época de transformações da Juve. Luciano Moggi, ex-Napoli, chegou para assumir o departamento de futebol do clube, que não vencia a Serie A havia nove anos – no período, conquistou duas Copas Uefa e uma Coppa Italia. Marcello Lippi chegou para o lugar de Giovanni Trappatoni e a equipe fez algumas contratações para o meio-campo, como Didier Deschamps, Robert Jarni, Alessio Tacchinardi e o próprio Paulo Sousa, que foi a contratação mais cara daquela campanha – à frente até de Ciro Ferrara, futuro ídolo bianconero. Eles se uniriam a Antonio Conte, Angelo Di Livio e Giancarlo Marocchi para formar um meio-campo de muita força, com o intuito de quebrar o incômodo jejum de quase dez anos sem título da equipe.

Sousa ficou apenas dois anos em Turim, mas se cobriu de glórias (imago)

E assim foi. Em seu primeiro ano, Paulo Sousa foi incontestável, a ponto de considerar seu primeiro ano na Itália como o grande salto de qualidade na carreira, ajudando nas conquistas do scudetto e da Coppa Italia – a Velha Senhora ainda foi finalista da Copa Uefa, mas foi derrotada pelo Parma, e com gols de Dino Baggio, antecessor de Sousa em Turim. O português foi titular na campanha e foi o pilar de um meio-campo que segurava o jogo para que Alessandro Del Piero, Roberto Baggio, Fabrizio Ravanelli e Gianluca Vialli brilhassem no ataque. A capacidade tática e a qualidade na criação de jogadas (com destaque para os lançamentos) fizeram o português chegar a ser comparado pelos italianos até mesmo a Paulo Roberto Falcão.

No ano seguinte, Paulo Sousa teve rendimento abaixo do esperado, devido uma série de pequenas lesões nos joelhos, a maior parte delas desenvolvida em Portugal, quando ainda era juvenil, e que se tornaram crônicas porque não foram tratadas corretamente. Mesmo correndo o risco de perder a vaga no time de Lippi e sem ser mais “intocável”, o camisa 6 foi o regista do meio campo juventino na conquista da Liga dos Campeões e jogou a final, disputada no Olímpico de Roma e vencida sobre o forte Ajax de Louis van Gaal nos pênaltis. Ao final da temporada, Paulo Sousa se juntou à seleção portuguesa, da qual era titular, e integrou o time que fez boa Eurocopa em 1996, caindo nas quartas para a vice-campeã, a República Checa.

Para a temporada 1996-97, o elenco da Juventus passaria por uma reformulação e Paulo Sousa, com 25 anos, foi vendido ao Borussia Dortmund. Pelos aurinegros, viria a sagrar-se bicampeão europeu (justamente em cima da Juventus) e entraria para a história como um dos três jogadores (junto a Marcel Desailly e Samuel Eto’o) a vencer a principal competição europeia por dois anos consecutivos e por duas equipes diferentes. Mas a aventura em terras germânicas rendeu mais frustrações que alegrias, mesmo com a conquista da Europa e do Mundial Interclubes. Em dois anos, Paulo Sousa disputou apenas 27 partidas, em função das diversas lesões que começavam a persegui-lo.

Na Inter, tal qual alguns companheiros de renome que teve na equipe, Paulo Sousa não rendeu (Allsport)

Em 1998, o meia retornou à Itália, desta vez para jogar na Internazionale. Apesar da qualidade, o rendimento físico já não era mais o mesmo. Acometido pelas lesões nos joelhos, Paulo Sousa jamais se firmou nos nerazzurri, jogando míseros 31 jogos em um temporada e meia – para piorar, época conturbadíssima da história interista. Antes de encerrar a temporada 1999-2000, o português se juntou ao Parma, numa troca que levou o defensor Michele Serena ao clube de Milão. Novamente, não conseguiu se manter saudável por muito tempo e atuou em apenas oito partidas com a camisa crociata.

Antes mesmo de completar 30 anos, Paulo Sousa já não se via mais como um atleta de alto nível e optou por jogar, primeiro no Panathinaikos e depois no Espanyol, a fim de se manter ativo para representar sua seleção em torneios de tiro curto – afinal, dessa forma as lesões não pesavam tanto. Dessa forma, Paulo Sousa disputou duas partidas da Euro 2000, em que Portugal caiu na semifinal, diante da França, e integrou o elenco patrício que disputou uma Copa do Mundo depois de quase 40 anos. Ao final do Mundial e da decepcionante participação portuguesa, Paulo Sousa (que não entrou em campo) deixou os gramados, com apenas 31 anos.

Três anos após abandonar os campos de forma precoce, Paulo Sousa iniciou a carreira como treinador, na seleção portuguesa sub-16. Com os conhecimentos de Lippi, da época em que foi comandado pelo italiano na Juventus, o ex-meia rapidamente ganhou destaque e se aventurou pela Inglaterra, acumulando passagens por Queens Park Rangers, Swansea e Leicester, que disputavam as divisões inferiores do país.

Antes de encerrar a carreira prematuramente, Paulo Sousa vestiu a camisa do Parma (Allsport)

Sem conquistas, o luso perdeu espaço e precisou esperar um ano até receber uma nova chance no modesto Videoton, da Hungria. No Leste Europeu ele foi vitorioso, venceu títulos e após dois anos aceitou o posto de técnico do Maccabi Tel Aviv. Em apenas uma temporada, ganhou a liga israelense e voltou a um lugar de destaque, dessa vez como treinador do Basel, chegando às oitavas de final da Liga dos Campeões e vencendo o título suíço.

Mesmo com uma história de sucesso na Juventus, o treinador não hesitou ao trocar a Basileia por Florença, assumindo o lugar que foi de Vincenzo Montella, no comando da Fiorentina. A chegada de um treinador que fora tão identificado com a Juventus, maior rival da Viola, foi vista com desconfiança da torcida no primeiro momento. Em pouco tempo de clube, porém, isso ficou de lado, já que seu time joga um futebol atraente e está na parte alta da tabela, brigando pela liderança. O final será feliz?

Paulo Manuel Carvalho Sousa
Nascimento: 30 de agosto de 1970, em Viseu, Portugal
Posição: meio-campista
Clubes como jogador: Benfica (1989-93), Sporting (1993-94), Juventus (1994-96), Borussia Dortmund (1996-98), Internazionale (1998-99), Parma (2000), Panathinaikos (2000-01) e Espanyol (2002)
Títulos como jogador: Mundial Sub-20 (1989), Campeonato Português (1990-91), Taça de Portugal (1992-93), Serie A (1994-95), Coppa Italia (1994-95), Supercoppa Italiana (1995), Liga dos Campeões (1995-96 e 1996-97), Supercopa da Alemanha (1996) e Mundial Interclubes (1997)
Carreira como treinador: Seleção Portuguesa sub-16 (2005-08), Queens Park Rangers (2008-09), Swansea City (2009-10), Leicester City (2010), Videoton (2011-13), Maccabi Tel Aviv (2013-14), Basel (2014-15) e Fiorentina (2015-atual)
Títulos como treinador: Taça da Hungria (2011-12), Supertaça da Hungria (2011 e 2012), Campeonato Israelense (2013-14) e Campeonato Suíço (2014-15)
Seleção portuguesa: 51 jogos

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