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Lajos Détári, o vaga-lume húngaro de Bologna, Ancona e Genoa

A escola de futebol do Hungria sempre foi conhecida por sua plasticidade e tendências ofensivas. Foi a partir do princípio de que marcar gols é o principal objetivo do esporte que os magiares formaram craques como Ferenc Puskás, Sándor Kocsis e Nándor Hidegkuti, estrelas da seleção vice-campeã mundial em 1954. Entre os jogadores das gerações mais recentes, um dos destaques foi Lajos Détári, meia-atacante que atuou em três clubes italianos na década de 1990, mas viveu de lampejos.

Détári começou como profissional no Honvéd, time do qual Puskás e Kocsis foram ídolos. Eram poucas as informações que vinham da Hungria socialista, mas o meia-atacante conseguiu levar sua reputação além da Cortina de Ferro. Entre 1980 e 1987, o habilidoso camisa 10 vestiu a camisa rubro-negra, foi três vezes artilheiro do Campeonato Húngaro e levou o time a três títulos nacionais.

Com esses números, Détári logo ganhou espaço como o principal nome da seleção da Hungria, para a qual recebeu sua primeira convocação em 1984. Dois anos depois, o meia foi titular na péssima campanha da seleção na Copa do Mundo, na qual os magiares foram goleados por União Soviética e França e venceram apenas o Canadá. Détári fez o segundo na vitória por 2 a 0, que até hoje é o último gol realizado pelo país em Mundiais.

Um ano após o torneio no México, Détári começou a rodar o mundo. Assinou com o Eintracht Frankfurt, clube pelo qual fez sucesso e foi figura central na temporada: foi o autor do gol de falta que deu a Copa da Alemanha aos rubro-negros, na última conquista da taça pelo clube. Após apenas um ano pelos frankfurtianos, o meia-atacante húngaro foi para o Olympiacos, que pagou o equivalente a 6 milhões de libras por ele.

Détári foi recebido com festa no aeroporto de Atenas e teve dois anos positivos, mas depois de um escândalo de corrupção que envolveu George Koskotas, dono do clube de Piraeus, foi novamente negociado, em 1990. Por cerca de 5 bilhões de liras, o húngaro assinou com o Bologna, que voltou à elite em 1988, após sete anos de ausência.

O meia magiar teve dificuldades de manter a forma física no Bologna (Getty)

O meia-atacante seria o grande nome da equipe emiliana, que também contava com a experiência de Antonio Cabrini, Roberto Tricella e Massimo Bonini, além dos gols de Kubilay Türkyilmaz. Após conquistar apenas dois pontos em seis rodadas, a diretoria demitiu Franco Scoglio e encarregou Luigi Radice de comandar o time no restante do campeonato. Não adiantou muito: os felsinei dependiam muito de Détári, que passou boa parte da temporada afastado.

O húngaro sofria com a irregularidade por causa de problemas físicos e chegou a ficar no estaleiro por quatro meses, devido a uma lesão no joelho. Quando esteve em campo, o fantasista ajudou os bolonheses a fazerem uma boa campanha na Copa Uefa (foram eliminados nas quartas de final pelo Sporting Lisboa), mas sua ausência se fez sentir na Serie A, competição em que o Bologna acabou rebaixado e com a lanterna. Détári jogou apenas 15 partidas no torneio de pontos corridos e fez cinco gols, sendo vice-artilheiro do time.

Détári permaneceu para a disputa da segundona e atuou mais vezes: fez 27 partidas e anotou nove gols, mas o Bologna acabou na 13ª posição, apenas um ponto acima da zona de rebaixamento. A crise no Renato Dall’Ara era grande e, com a saída do magiar, em 1992, se agravou, com a queda para a terceira divisão.

Détari passou por três clubes no futebol italiano (Arquivo/Bologna FC)

De saída do Bologna, Détári voltou à primeira divisão juntamente com o Ancona, que conseguiu o acesso à Serie A pela primeira vez em 1992-93. Finalmente em forma, o trequartista assumiu a camisa 10 do time marquesão e atuou em 34 partidas, marcando 10 gols. Détári fez um primeiro turno excelente, com atuações acima da média e um repertório de golaços, com dribles desconcertantes e belíssimos chutes de fora da área. Após a virada do ano, o húngaro se apagou e viu o Ancona ser rebaixado de novo.

Com outro rebaixamento, Détári, então com 30 anos, voltou para seu país natal, por empréstimo, e defendeu o Ferencváros por 13 partidas. Em novembro de 1993, recebeu uma proposta do Genoa e foi vendido pelo Ancona à equipe lígure. Outra vez, o magiar não engrenou: fez um gol em apenas oito partidas e, em janeiro, foi barrado pelo seu antigo comandante, Franco Scoglio. Sem espaço, assinou no final da temporada com o Neuchâtel Xamax, da Suíça.

Nos Alpes, Détári teve o grande último momento da carreira, mas, apesar de ter sido considerados um dos melhores jogadores do Campeonato Suíço, não foi campeão e ainda teve atritos com o técnico Gilbert Gress. Já aposentado da seleção húngara, o jogador deixou de ter evidência e, após um ano parado, rodou pela segunda divisão da Áustria e por times pequenos da Hungria.

Em 2000, o fantasista decidiu parar de jogar. Com o fim da carreira, ficou definitivamente marcado como mais um dos jogadores do Leste Europeu que dão pinta de que vão explodir nos maiores campeonatos do continente, mas que vivem de espasmos de bom futebol. Poderia ter tido uma carreira mais célebre.

Depois de se aposentar, Détári usou sua reputação como ótimo jogador para se tornar técnico. Sua carreira fora das quatro linhas não teve continuidade alguma e muito menos títulos: em 12 anos de atividade ele teve 18 empregos e passou por países como Romênia, Vietnã, Grécia e, claro, a Hungria. Treinou alguns dos grandes times do país, como Honvéd, Haladás e Ferencváros, mas sem qualquer destaque. Nem mesmo um lampejo, como os que teve como jogador.

Lajos Détári
Nascimento: 24 de abril de 1963, em Budapeste, Hungria
Posição: meia-atacante
Clubes como jogador: Honvéd (1980-87), Eintracht Frankfurt (1987-88), Olympiacos (1988-90), Bologna (1990-92), Ancona (1992-93), Ferencváros (1993), Genoa (1993-94), Neuchâtel Xamax (1994), St. Pölten (1996-98), Budapeste VSC (1999), Dunakeszi VSE (1999-2000)
Títulos: Campeonato Húngaro (1984, 1985 e 1986), Copa da Hungria (1985), Copa da Alemanha (1988) e Copa da Grécia (1990)
Seleção húngara: 61 jogos e 13 gols

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