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Vincenzo D’Amico, o fenomenal campeão da Lazio

Para alguns, a última grande bandeira da Lazio; para outro, um jogador que perdeu a oportunidade de ser ainda mais reconhecido por problemas disciplinares. O ponto de interseção entre os dois pontos de vista, é o seguinte: Vincenzo D’Amico demonstrou uma qualidade acima da média e foi protagonista na conquista do primeiro scudetto laziale.

Já na infância, o pequeno Vincenzo sabia o que queria da vida: ser jogador de futebol. Nascido em Latina, cidade próxima a Roma, D’Amico começou em uma escolinha da cidade, até que foi notado por um time da capital. Em 1969, prestes a completar 15 anos, foi para as categorias de base do Almas, onde pouco ficou: no ano seguinte a Lazio já havia assegurado o talento do jovem para o futuro.

A trajetória de D’Amico na Lazio foi meteórica. Aos 16 anos, o meia-atacante já fazia parte do time Primavera e, com boas atuações, chamou a atenção do treinador Juan Carlos Lorenzo, que o levou para o time principal. Antes de completar 18, estreou na Serie B em um jogo contra o Modena, e também ganhou um Campeonato De Martino, uma antiga competição organizada pela Federação Italiana de Futebol para jogadores pouco utilizados dos times da primeira divisão e atletas sub-23. D’Amico levantou os troféus do torneio em 1971 e em 1974.

Ainda garoto, Vincenzo era um dos pupilos do técnico Maestrelli (Corriere dello Sport)

A temporada 1973-74 foi inesquecível para o jovem de 19 anos, pois marcou sua estreia na Serie A. D’Amico deveria ter estreado um ano antes, mas uma séria lesão no joelho o fez ficar no estaleiro durante todo o campeonato anterior. Desta forma, seu primeiro desafio na elite foi diante da Sampdoria, na segunda rodada, em uma atuação que impressionou o técnico Tommaso Maestrelli. A partir dali, o jovem – que gostava de jogar pelos lados e que era ótimo em assistências e cobranças de falta – conquistou a vaga de titular de uma equipe que fez história.

Naquele campeonato, Vincenzo formou um trio de ataque fenomenal com Giorgio Chinaglia e Renzo Garlaschelli. Apesar de não marcar muitos gols (foram apenas dois em 1973-74), o camisa 11 sempre participava das jogadas ofensivas e, por isso, se tornou uma peça fundamental do time que conquistou o primeiro scudetto da história da Lazio. Ainda tímido, não se fez influenciar pela divisão interna no vestiário celeste e ouviu os conselhos de Maestrelli e do capitão Giuseppe Wilson. Com a cabeça no lugar, D’Amico foi capaz de decidir alguns jogos sozinho, com grandes atuações, e acabou eleito a revelação da Serie A ao final da temporada.

Os anos seguintes tinham tudo para serem conhecidos como o período de consagração da cria da Primavera laziale, mas não foi bem assim. O talentoso jovem de Latina teve a carreira atrapalhada por seu comportamento pouco profissional e por seguidas lesões – influenciadas, eventualmente, por seu estilo de vida. D’Amico gostava de curtir a noite e, mesmo que tivesse tendência a ganhar peso rapidamente, exagerava nas iguarias da culinária italiana. Era comum que Maestrelli retivesse seus documentos e seu dinheiro, para evitar escapulidas. O “paizão” também tentava controlar a sua alimentação.

O meia-atacante ficou conhecido por criar chances de gol e pelo poder de finalização (Corriere dello Sport)

Em 1979-80, D’Amico voltou a ter uma temporada significativa, em meio a tantos problemas que envolviam a Lazio. Pino Wilson (o capitão), Bruno Giordano, Lionello Manfredonia e Massimo Cacciatori, foram pivôs do escândalo Totonero e acabaram cumprindo suspensão preventiva. Com isso, Vincenzo se tornou a liderança técnica e moral do elenco: herdou a braçadeira e foi fundamental para evitar o rebaixamento da equipe no campo. Porém, seus esforços foram em vão: como punição pelo ilícito esportivo, a equipe capitolina perdeu pontos e caiu para a Serie B.

O descenso da Lazio escancarou as dificuldades financeiras pelas quais a equipe passava. Estrela da companhia, D’Amico acabou cedido, ainda que contra a sua vontade, para amenizar a folha salarial. No Torino, que adquiriu seus direitos, ele herdou a função de fantasista, lacuna aberta com a saída de Claudio Sala. Apesar da responsabilidade de substituir uma lenda granata, atuações irregulares e uma troca no comando do time fizeram com que D’Amico ficasse fora dos planos da equipe e, ao fim da temporada, pedisse para retornar à Lazio, agora na Serie B.

Na segundona, a Lazio quase deu vexame: os aquilotti eram favoritos ao acesso, mas só conseguiram evitar a queda para a Serie C na última rodada. D’Amico, artilheiro do time com 10 gols, ainda foi decisivo no penúltimo jogo da campanha, ao marcar uma tripletta contra o Varese. No ano seguinte, os romanos voltaram à elite e proporcionaram a Vincenzo suas últimas glórias em alto nível.

D’Amico roeu o osso com a Lazio na Serie B e, como capitão da equipe, a devolveu à elite (Corriere dello Sport)

Na Serie A 1983-84, o “genial e genioso” jogador atuou ao lado de Michael Laudrup e fez, com sucesso, a função de falso centroavante, por causa da lesão de Giordano. Na campanha da salvezza laziale, o talento de Latina marcou sete gols, incluindo uma doppietta num dérbi contra a Roma, que terminaria empatado em 2 a 2.

Como cuidava pouco de seu físico, o nível de suas atuações caiu e ele perdeu espaço no time, virando reserva de Francesco Dell’Ano. Em 1986, com a Lazio novamente na Serie B, o meia-atacante deixaria o clube, com 14 dos seus quase 32 anos de idade dedicados às Águias. Foram 51 gols marcados em 338 partidas com a camisa biancoceleste – até hoje D’Amico só perde para Pino Wilson e Aldo Puccinelli como jogador que mais representou a equipe em jogos oficiais.

Depois de deixar a Cidade Eterna, Vincenzo assinou com a Ternana, que disputava a Serie C2, quarta categoria do futebol italiano. Só em uma divisão com nível técnico tão inferior é que seu talento incontestável ainda poderia se sobressair frente ao físico debilitado. O craque problemático se tornou capitão dos rossoverdi e marcou 20 gols em duas temporadas, encerrando a carreira como jogador em 1988.

D’Amico defendeu a Lazio por quase 15 anos, nas melhores e na piores fases, se convertendo em bandeira celeste (Corriere dello Sport)

Ao longo de sua trajetória futebolística, D’Amico foi pouco considerado para a seleção italiana, por conta de sua irregularidade e pela concorrência no setor em que atuava – Sala e Franco Causio agradavam mais ao técnico Enzo Bearzot. Quando teve a única chance na Nazionale principal, Vincenzo não teve maturidade para aceitar o dissenso e a jogou na lata do lixo. Sua forma exuberante em 1980 lhe rendeu convocações para os jogos contra Luxemburgo e Dinamarca, mas ele não entrou em campo. Irritado, criticou o treinador publicamente e nunca mais foi chamado. Dessa forma, teve de se contentar com jogos realizados pela seleção B da Itália e por um selecionado militar dos azzurri.

Após a aposentadoria, D’Amico trabalhou nas categorias de base da Lazio e foi dirigente do Latina (que ajudou a refundar, em 2009) e do Adrano. O ex-jogador também foi comentarista esportivo e integrou, por muitos anos, o estafe da Rai, participando de programas como La Giostra del Gol, Stadio Sprint e 90º minuto. Seguiu ligado à Lazio e comentava as partidas do clube pela Radiosei, uma das estação dedicada exclusivamente ao clube celeste. Vincenzo faleceu no início de julho de 2023, após batalha contra um câncer.

Atualizado em 1º de julho de 2023.

Vincenzo D’Amico
Nascimento: 5 de novembro de 1954, em Latina, Itália
Morte: 1º de julho de 2023, em Roma, Itália
Posição: meia-atacante
Clubes: Lazio (1971-80 e 1981-86), Torino (1980-81) e Ternana (1986-88)
Títulos: Serie A (1974) e Campeonato De Martino (1971 e 1974)

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