Serie A

Review – Torneo di Viareggio

Criado inicialmente para o projeto parceiro Olheiros:

Há muito o que se falar quando termina o Torneo di Viareggio: Poderia se comentar, ou lamentar, equipes que poderiam ter ido mais longe, como a poderosa Fiorentina, parada nas quartas-de-final por um eficientíssimo Empoli. Ou, quem sabe, decepcionar-se com participações pífias, como a da Roma, que não marcou um ponto sequer. Pode-se – e deve-se – também apontar grandes jogadores para o futuro próximo, que é o que se espera desse tipo de torneio. Competições como Viareggio mostram ao grande público que os fenômenos instantâneos surgidos nas últimas semanas, como Paloschi e Balotelli, não surgiram do nada. E que nenhuma equipe sub-20 pode ser considerada totalmente confiável – a desigualdade brutal entre algumas equipes pôde ser uma armadilha, quando o Vicenza foi pisoteado pelo Anderlecht, levando seis gols: os italianos chegaram às semifinais, os belgas ficaram apenas em terceiro em seu grupo. Enfim, não é instantânea a reputação fantástica que tem Viareggio. Uma boa leitura.

As decepções

Roma
Quando caiu: Primeira fase.

Disparado, o maior fiasco. Conhecida por um forte trabalho nas categorias de base e um considerável valor aos jovens da equipe, a Roma, treinada sempre por Alberto De Rossi – pai do meia, diga-se de passagem -, só disputou as três partidas da primeira fase, contabilizando três derrotas. Na primeira, contra o Shakhtar, por 2 x 1, o gol de honra foi marcado pelo irmão de Doni, João Paulo Marangon. Para conseguir a classificação, a equipe giallorossa precisava vencer seus outros dois jogos; o que passou muito longe. Derrotas para Siena e Ascoli, por 3 x 2 e 2 x 1, respectivamente, concretizaram a precoce eliminação dos tetracampeões do torneio e que na edição passada só foram parados na final. É válido dizer que o elenco já não era tão forte, mas em se tratando de categorias de base, a Roma é um nome mais tradicional do que sua equipe principal. A expectativa fica para a próxima safra, daqueles nascidos em 1991 – os allievi -, que conseguiu uma marca de 14 vitórias em 15 jogos. Destaque positivo para Daniel Unal, meio-campista suíço que serviu como cérebro para a equipe.

Milan
Quando caiu: Oitavas-de-final.

Um grupo desequilibrado ajudou a iludir a equipe rossonera: nas duas primeiras partidas, os milanistas marcaram nada mais nada menos que 13 gols, sem sofrer um tento sequer. No primeiro jogo, o Milan venceu por 4 x 0 os macedônios do Belasica. Na partida seguinte, a segunda maior goleada do torneio: 9 x 0 em cima do Malaysian, que também tomou de seis do Cesena. O placar só não superou os estrondosos 11 x 0 da Fiorentina no New York Stars. No último confronto da fase de grupos, a equipe parou frente ao Cesena, num perigoso empate por 1 x 1, com gol de Aubameyang, que balançou as redes por duas vezes no torneio, mesmo número do ascendente Paloschi. Na partida de oitavas de final, contra os especialistas em Viareggio do Vicenza, os milanistas não saíram do zero e só conseguiram levar o jogo para os pênaltis: melhor para os biancorossi de Franco Gabrieli, que venceram por 4 cobranças a 3. Bem como ocorrido com o filho de Roberto Mancini, hoje emprestado ao Manchester City, Davide Ancelotti – filho do comandante rossonero -, disputou o torneio pelo Milan.

Juventus
Quando caiu: Oitavas-de-final.

Antes do torneio: ‘Ultimamente, não dá para falar de Viareggio sem falar de Juventus. Nos últimos cinco anos, o time de Vinovo venceu três e foi vice-campeão de outro. A Juve vem em ritmo forte no campeonato Primavera, liderando seu grupo com folga. Mas os jovens da Velha Senhora decepcionaram, e, pela segunda vez consecutiva, pararam nas oitavas de final da competição. Após uma fase de grupos firme e uma classificação esperada, com direito a um placar de 8 x 0 em cima do Massesse, a Juve se deparou com uma Lazio de altos e baixos que poderia surpreender: os romanos vinham de vitória, derrota e vitória no torneio, todos os jogos terminados em 3 x 0. Infelizmente para a Juventus, o dia estava bom para os laziali: uma dominação completa em campo do time celeste, que resultou em dois gols, marcados por Capogna e Cinelli ainda antes dos vinte minutos, e a segunda eliminação precoce seguida dos bianconeri.

Os Semifinalistas

Empoli (finalista)

O Empoli, em sua terceira final, sempre em anos ‘olímpicos’ (campeão em 2000, vice em 2004 e 2008), vê que a geração recheada de azzurrini – o atacante Caturano, o goleiro Pelagotti, o zagueiro Iacoponi e o meia Pizza – pode ser prólogo de um bom futuro. Fato é que o time treinado por Ettore Donati fez uma campanha excelente e, por pouquíssimo, não levantou o caneco. Junto de mais quatro equipes, os biancazzurri passaram muito bem pela fase de grupos, conquistando nove pontos. Na primeira partida, venceram o River Plate em uma disputa truncada, cujo gol de Maico Caroti bastou para os italianos conquistarem os três pontos mais difíceis da primeira fase. Em seu segundo jogo, o Empoli se impôs e ganhou com certa facilidade do Camberene, por 3 x 1: o atacante Luca Hemmy marcou uma doppietta e deu tranqüilidade para o time ampliar em seguida. No final da partida, um pênalti bobo permitiria ao então apenas líder tomar o primeiro gol na competição. Outro 3 x 1 para fechar a primeira fase, desta vez contra o Cuoiocappiano, daria moral à equipe para seguir em frente no Torneo di Viareggio. Outra vez, Hemmy balançou as redes.

Já nas oitavas contra a Sampdoria, um maior sofrimento: após placar fechado no tempo regulamentar, um surpreendente 2 x 1 nas cobranças de pênalti permitiu a eliminação da Samp, que disputou os últimos 25 minutos da partida com um jogador a menos, graças à expulsão de Lanzoni. Nas quartas, um duelo complicado: os biancazzurri pegariam uma Fiorentina 100% de aproveitamento. Após um persistente empate por 1 x 1 que levaria o jogo às cobranças de pênalti, Caturano marcou faltando apenas quatro minutos para o fim do jogo e levou o Empoli às semifinais. Depois de se deparar com um batalhador Vicenza, a equipe de Donati foi mais uma vez implacável: com excelentes atuações de Pizza e Musaci, foi mais fácil criar as chances necessárias para Caturano e Caponi levarem o time à decisão. A descrição das finais pode ser lida abaixo, no subtópico direcionado a campeã Internazionale.

Atalanta

Simplesmente fazendo o necessário: foi assim que os nerazzurri passaram da primeira fase. Sem encantar ou chamar grande atenção, o time de Alessio Pala foi ríspido e, pelas beiradas, mortal. Antes do torneio, nosso preview havia dito o seguinte: com jogadores sem muita badalação, porém efetivos, esta Atalanta pode ir longe apostando em sua tradição em torneios juvenis. Ponto para nós. Na estréia do campeonato, sete minutos foram o suficiente para acabar com o jogo: Michele Marconi, de pênalti, e uma doppietta em três minutos de Nicolù Crotti deram a vitória contra um Ujpest que ainda diminuiria com Nagy, também de pênalti. Na segunda partida, contra o Midtjylland, três pontos conquistados por pouco: aos 40 minutos de segundo tempo, entrava Steven Roggeri em campo. Mal sabia ele que, quatro minutos depois, daria a vitória aos nerazzurri. No último jogo da primeira fase, outra disputa sofrida: quando aos 20minutos de segundo tempo era expulso o atacante Tavanti, da Sansovino, enquanto o placar apontava 2 x 1 para sua equipe, ele não devia imaginar que o fato de ter 10 homens em campo abalaria a equipe, e, em 13 minutos, aquele mesmo placar já marcava 3 x 2 para a Atalanta, com gols de Moussa Kone e Tobia Fusciello.

Já nas oitavas-de-final, contra o Spartark Moscow, a equipe de Pala perdia de 2 x 0 até os mesmos 27 minutos de segundo tempo, coincidentemente. Até que o zagueiro Matteo Gentili e o atacante Amath Gueye empataram a partida. Curiosamente, tanto Fusciello contra a Sansovino quanto Gueye contra o Spartak haviam entrado em campo no lugar de zagueiros. Nas penalidades, três cobranças catastróficas dos russos garantiram a vaga dos italianos nas quartas-de-final. Finalmente, um jogo menos dramático: 4 x 0 na forte Lazio, com 2 gols em cada tempo, levaram os nerazzurri às semifinais, quando pegariam a poderosíssima Inter. Outro jogo equilibrado, provando que não foi mero acaso a Atalanta ter ido tão longe. No final do primeiro tempo, Ribas abriu o placar para os interistas, que viram Gentili empatar com 9 minutos de segundo tempo. Os de Pala não resistiram ao fato de duas expulsões terem desmontado a equipe, e, no último minuto de uma fechada prorrogação, sofreram o golpe fatal de Balotelli.

Vicenza

Se pudesse definir em uma expressão a campanha biancorossa, com certeza, seria aquela de ‘aos trancos e barrancos’. Uma primeira fase assustadora colocou pontos de interrogação na cabeça do torcedor do Vicenza. Logo de cara, uma goleada: os italianos venceram por 4 x 0 o Sparta Praga, com grande atuação do meio-campista Mattia Minesso, autor do terceiro gol. Em seguida, transformaram o próprio dia em um pesadelo a ser imediatamente esquecido, sofrendo bizarros 6 x 0 diante do Anderlecht – destaque para Guillaume Clinckemaille, que fez três gols na partida, sendo dois em apenas dois minutos. Já no terceiro jogo, contra o Pergocrema, mais um grande motivo para suar: com uma disputa empatada até os 47 minutos do segundo tempo, foi necessário que Matteo Codignola, que havia entrado 15 minutos antes, fizesse um salvador gol para garantir a classificação dos comandados de Franco Gabrieli.

Para continuar testando cardíacos, o Vicenza eliminaria então o Milan nos pênaltis, após boa participação do meio-campo, que fez com que Brotto fosse o melhor jogador da partida. Em seguida, contra o Ascoli, nova classificação nos pênaltis, dessa vez com ainda mais emoção: após novo empate em 0 a 0 no tempo regulamentar, o atacante letão Edgars Gauracs abriu o placar para os bianconeri com 12 minutos de prorrogação, mesmo com dez jogadores em campo, visto que Franka havia sido expulso no final da segunda etapa. Na volta do intervalo, foram necessários mais 11 minutos para o zagueirão Zentil empatar a partida e levar o jogo às penalidades máximas. O mesmo herói Zentil perdeu a primeira cobrança, mas mesmo assim todos os outros chutes foram convertidos e fizeram com que o Vicenza fosse às semifinais do torneio. A partida foi decidida ainda nos 90 minutos, e nada adiantou para evitar com que um mais incisivo Empoli chegasse à final: com gols de Caturano e Caponi, um em cada tempo, os biancorossi deram adeus à competição sabendo que poderiam tê-lo feito bem antes.

A Campeã

O quinto título interista tem nome e sobrenome: Mario Balotelli. E, ao contrário do que costuma acontecer com quem se destaca em Viareggio, já é conhecido do grande público. O palermitano de ascendência ganesa brilhou nas últimas fases da Copa da Itália, pelo time profissional da Inter, e só se juntou ao elenco que disputou Viareggio após a partida de volta com a Juventus, pelas quartas-de-final da Copa. Em Turim, marcou dois gols e ajudou a Inter a se classificar, em 30 de janeiro. Para em 4 de fevereiro marcar um dos três gols da Inter sobre o Piacenza, na última partida válida pela fase de grupos do torneio de Viareggio.

A chegada de Balotelli acabou tirando a posição de Napoli. Antes da estrela da companhia chegar, Napoli havia marcado três gols nos dois primeiros jogos (2 x 0 no Olympiacos e 2 x 1 sobre a Reggina). A partir do terceiro jogo, porém, Balotelli – sete gols, seis jogos – fez dupla com Ribas, que tem história na competição: foi dele o gol do título do Juventud de Las Piedras sobre a Juventus, há dois anos. O uruguaio marcou duas vezes em oito partidas. No 4-4-2 com meio-campo em linha, armado pelo técnico Vincenzo Esposito, Siligardi e Puccio foram os meias externos, enquanto Bolzoni e Krhin compuseram pela centro. Obi e Gerbo também foram importantes – o último, até mesmo titular na finalíssima. Mais atrás, o goleiro Belec tinha a dupla Federici-Esposito a sua frente, com Filippini pela lateral direita e Fatic pela esquerda. A defesa nerazzurra sofreu nove gols nos oito jogos da competição.

Nas oitavas-de-final, a Inter passou pela Cisco Roma, com grande exibição de Obi e dois gols de Balotelli. Já nas quartas, o time de Esposito superou um jogo fisicamente intenso, contra um Cesena que renunciou à partida para se defender. Numa das poucas chances da partida, Belec fez milagre em chute de Ambrogetti ao fim do segundo tempo, que terminou sem alteração no placar. Na prorrogação, Turbo Mario marcou um golaço de falta e Destro correu por 60 metros antes de deixar o dele. Nas semifinais, um jogo quente contra a Atalanta: Ribas abriu o placar batendo o goleiro Andreoletti após um cruzamento de Fatic, mas Gentili garantiu o empate logo que as equipes voltaram dos vestiários. A classificação só se definiu no último minuto da prorrogação, quando Balotelli, sempre ele, deixou sua marca.

Duas finais foram necessárias. Na primeira delas, dia 11, o Empoli segurou o ímpeto da Inter num 1 x 1 por 120 minutos. Como o torneio não previa cobrança de penalidades, outra decisão foi marcada. Dois dias depois, Esposito foi obrigado a improvisar. Sem o esloveno Krhin, lesionado, e Bolzoni e Puccio, suspensos, o 4-4-2 deu lugar a um 4-3-3, com o retorno de Napoli ao time titular. No primeiro tempo, o árbitro Luca Banti foi o centro das atenções: marcou dois pênaltis contestáveis, um para cara lado, convertidos por Arvia e Balotelli. No segundo tempo, a partida recuperou a beleza: Caturano voltou a pôr o Empoli à frente da Inter, que, pela primeira vez no torneio precisava de um gol a qualquer custo, mas se via de mãos atadas às grandes intervenções de Pelagotti. Balotelli tentou até de bicicleta, mas só ao cobrar falta pôde furar o bloqueio do goleiro. Sem outro gol, nem mesmo na prorrogação, os sempre cruéis pênatis decidiram o campeão: após quatorze cobranças, Belec defendeu a de Luca Hemmy – que, por ironia do destino, havia marcado o gol do Empoli na primeira das finais.

Seleção do torneio

Pelagotti (Empoli); Filippini (Inter), Barbetti (Atalanta), Iacoponi (Empoli), Ortolan (Vicenza); Krhin (Inter), Unal (Roma), Bolzoni (Inter); Caturano (Empoli), Balotelli (Inter), Gauracs (Ascoli)

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