Jogadores Técnicos

O longevo Dino Zoff foi um acumulador de marcas históricas

Filho de uma dona de casa e um trabalhador rural, Dino Zoff sempre ouviu que é com trabalho que as coisas acontecem. “Trabalhar” era o verbo de seu pai, Mario, que saía para a lavoura todo dia cedo e voltava só depois do sol se pôr. Quando conseguiu melhorar de vida e passou a trabalhar em uma oficina, na pequena Mariano Del Friuli, o jovem Dino já o ajudava, com pouco mais de dez anos de idade. E assim foi pautada a vida do jovem que realizou seus sonhos e se tornou um dos melhores goleiros do mundo: com muita dedicação e trabalho.

Desde criança, Dino queria ser jogador de futebol. Mas não era como os outros meninos da sua idade, que pensavam em ser como Giuseppe Meazza, Valentino Mazzola ou Giampiero Boniperti, artilheiros. Dino sempre quis ser goleiro. Sua diversão era ficar debaixo das metas, evitando os gols. Porém, sempre tratou o desejo como uma fantasia, se dedicando sempre aos estudos e à oficina, deixando o futebol só para as horas vagas.

Nos tempos de Mantova, Zoff entra no gramado do San Siro com o milanista Lodetti (Archivio Farabola)

Só aos 15 anos, quando a família já tinha uma renda maior e um padrão de vida melhor, Zoff pôde se dedicar ao futebol. Atuando pelo Marianese, pequeno clube da cidade, o garoto tinha alguma chance de aparecer, para olheiros de diversos times. Giuseppe Meazza e Renato Cesarini estão na lista dos olheiros que passaram pela cidade e descartaram o jovem goleiro. Seu futuro como mecânico estava praticamente certo, até que Comuzzi olhou, gostou e levou o menino para a Udinese, em 1961.

A estreia na Serie A foi no mesmo ano, dia 24 de setembro. O técnico Bonizzoni lançou o menino no jogo contra a Fiorentina e Zoff tomou nada mais, nada menos que cinco gols. Até hoje se recorda: “Alguns dias depois fui ao cinema e no intervalo tinha o quadro Settimana Incom. Fizeram-me ver de novo os cinco gols e eu me encolhi na poltrona, com vergonha”, disse a um jornal local, alguns anos depois.

Zoff teve uma passagem muito positiva pelo Napoli antes de se tornar estrela da Juventus (Getty)

Permaneceu em Údine por dois anos, mas sem agradar muito. Em 1963, então, Bonizzoni transferiu-se para o Mantova e bancou o garoto. Zoff tinha novos ares, a confiança do treinador e um lugar entre os 11 iniciais. Era o que ele precisava. Em Mantova, encontrou tranquilidade e amadureceu. Com a ajuda dos companheiros, que chamava de família, cresceu e apareceu: clubes grandes queriam sua contratação. E depois de quatro anos já era hora de um novo passo. O Milan era o candidato mais forte para levar Zoff de volta à Serie A, mas foi o Napoli, no último minuto, que fechou sua contratação.

Seu primeiro ano em Nápoles foi o melhor. O time que contava com Altafini, Sívori, Panzanato, Montefusco, Bianchi, entre outros, disputou o título até o final. O burburinho na cidade era enorme, os dirigentes confiavam demais na vitória e os torcedores também, mas o scudetto acabou ficando com o Milan. As chances de algum título, então, foram só diminuindo e Zoff mantinha seu currículo em branco. Mesmo assim, os anos vestindo azzurro foram importantíssimos para que o goleiro conseguisse a tão sonhada oportunidade na seleção.

Após se destacar por Udinese, Mantova e Napoli, Zoff chegou à Juventus (imago)

Sua estreia foi no dia 20 de abril de 1968, na Eurocopa. A má fase de Albertosi fez com que o técnico Ferruccio Valcareggi trocasse o titular da meta já no meio da competição. Zoff agarrou a oportunidade e ajudou a Itália a chegar ao título europeu. Foi também o primeiro de sua carreira. O êxito na Eurocopa garantiu seu lugar entre os convocados para a Copa do México, em 1970, mas a vaga de titular continuou com Albertosi. Do banco, viu sua Itália cair para o Brasil, na final.

Enquanto isso, acabava seu ciclo no Napoli. Depois de cinco temporadas e grandes apresentações chegava a hora de Zoff fazer história. E nada melhor que um ambiente com futuros craques como era aquele da Juventus para isso. Eram tempos de renovação na Velha Senhora e Bettega, Causio, Anastasi e Capello estavam naquele grupo. Zoff era o veterano do time, no auge de seus 30 anos, com a experiência e a segurança que aquele time precisava para vencer. Foram 11 temporadas de muito sucesso no comando do gol bianconero.

O capitão do tri: Zoff é uma lenda do futebol italiano (imago/WEREK)

Já na temporada de 1972-73, sua primeira por lá, venceu o Campeonato Italiano, no título que considera o mais importante de sua passagem por Turim: “Tinha Causio, Haller e Bettega. A velocidade junto com a habilidade, a classe misturada ao dinamismo. Depois chegou gente como Benetti e Boninsegna, que aumentaram a força física e a experiência do grupo, mas aquela primeira Juve permanece no meu coração”.

Nos anos seguintes, vieram mais cinco scudetti, duas copas nacionais, uma Copa Uefa e muitos recordes. Foram 570 jogos na Serie A, tornando-se o maior participante do campeonato até então (hoje, Maldini, com 647 jogos, e Pagliuca, com 592, estão na sua frente) e o que mais disputou jogos de maneira consecutiva: 332, no total. É também o segundo do ranking de goleiros que ficaram mais tempo sem tomar gol na Serie A: 903 minutos. Sebastiano Rossi, do Milan, é o primeiro da lista, com 929 minutos.

Entre os grandes da história: Zoff também liderou fortíssima defesa da Juve por uma década (imago/Colorsport)

Zoff fez parte de alguns importantes ciclos juventinos. Jogou com Cabrini e Tardelli, depois com Platini e Boniek, e, claro, fez parte da Era Trapattoni. Na Juve, tornou-se mito e ganhou o apelido de SuperDino. Aposentou-se em 1983.

Foram também seus anos de glória pela seleção, participando de três Copas do Mundo como titular: 74, 78 e 82. Na primeira, o fracasso da eliminação ainda na primeira fase. Na segunda, o carrasco brasileiro novamente, na derrota que valia o terceiro lugar. E na terceira, finalmente a revanche sobre o Brasil e o título.

Nesses anos de seleção acumulou também números importantes: foram 1143 minutos sem tomar gols, entre setembro de 1972 e junho de 1974. Ao todo, foram 14 anos de seleção, nos quais conquistou a Europa e o mundo (o único a atingir tal feito), tornando-se um dos mais importantes goleiros da história. Seus 112 jogos vestindo azzurro só foram superados por Cannavaro (127) e Maldini (126).

Como treinador, Zoff se destacou na Juventus e ainda comandou a Itália numa Euro (Bongarts/Getty)

Fora das quatro linhas
Depois da aposentadoria, assumiu o posto de treinador de goleiro da Juventus, entre 1983 e 1986. Nos dois anos seguintes foi técnico da Seleção Olímpica, que chegou às semifinais dos Jogos de Seul, eliminada pela posterior campeã União Soviética. Depois da boa campanha olímpica, então, assumiu o comando da Juventus, onde conduziu uma reformulação e conquistou a Copa Uefa e a Coppa Italia de 1990.

Depois, passou pela Lazio, onde alternou momentos de treinador e presidente, sendo importante no início da gestão do proprietário Sergio Cragnotti e elevando o nível do time. Comandou também a seleção italiana, no vice-campeonato da Eurocopa de 2000. Após uma outra passagem apagada pela Lazio, em 2001, treinou apenas mais uma equipe: a Fiorentina, em 2005. Em seguida, passou a descansar em casa e ver seu nome sondado por alguns times, vez ou outra, até, efetivamente, pendurar a prancheta e aproveitar a sua aposentadoria como mito do esporte.

Dino Zoff
Nascimento: 28 de fevereiro de 1942, em Mariano Del Friuli, Itália
Posição: goleiro
Clubes como jogador: Udinese (1961-63), Mantova (1963-67), Napoli (1967-72) e Juventus (1972-83)
Títulos como jogador: Campeonato Italiano (1973, 1975, 1977, 1978, 1981 e 1982), Coppa Italia (1979 e 1983) Copa Uefa (1977), Eurocopa (1968) e Copa do Mundo (1982)
Carreira como treinador: Itália (seleção olímpica; 1986-88), Juventus (1988-90), Lazio (1990-94, 1997 e 2001), Itália (1998-2000) e Fiorentina (2005)
Títulos como treinador: Coppa Italia (1990) e Copa Uefa (1990)
Seleção italiana: 112 jogos

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