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O modelo Maurizio Zamparini de gestão

No mundo ideal do empresário Maurizio Zamparini, alguém estaria sendo demitido no momento em que você lê este texto. Implacável com os treinadores que emprega, o vulcânico presidente do Palermo conseguiu um novo feito nesta temporada e voltou a virar notícia por causa de seu temperamento intempestivo: o time rosanero terá o oitavo técnico diferente em 2015-16. Nenhum dirigente é um carrasco maior de treinadores do que o empresário friulano.

A temporada do Palermo começou sob a batuta de Giuseppe Iachini, que foi demitido para dar lugar a Davide Ballardini, mandado embora após conflitos com o elenco. Dessa forma, Guillermo Barros Schelotto foi contratado, mas, como ele não tinha a licença Uefa, três interinos dirigiram oficialmente a equipe até o argentino pedir o boné. Iachini voltou, mas durou só três rodadas até o cartola criticar a equipe duramente, o que provocou a recusa do comandante em voltar aos treinamentos e apresentar a demissão – a tréplica do cartola teve o aceite do pedido e alguns insultos, como “doente mental”. Zamparini, então, resolveu ressuscitar Walter Novellino, que estava afastado da Serie A há quase sete anos.

A ciranda no banco de reservas não é novidade nas equipes dirigidas por Zamparini. O friulano é empresário do ramo de lojas de departamento e, através da holding Emmezeta, ele costuma comprar corporações, valorizá-las e vendê-las depois. É mais ou menos o que ele faz com os clubes e seus jogadores: no futebol desde os anos 1980, o dirigente, que chegou a tentar a carreira no esporte, esteve à frente do pequeno Pordenone e, em 1987, comprou o Venezia.

Em 15 anos no comando dos arancioneroverdi, Zamparini conseguiu levar a equipe à primeira divisão após 30 anos de ausência. Nesse período, o dirigente contratou jogadores como Álvaro Recoba e Dejan Petkovic, mas também não deu sossego a seus treinadores. Foram 30 trocas ao longo de uma década e meia, e nem mesmo técnicos que se tornariam tarimbados, como Luciano Spalletti e Cesare Prandelli resistiram à sanha do cartola. Uma curiosidade: Walter Novellino conquistou o acesso com a equipe do Vêneto em 1997-98, e Beppe Iachini jogou no clube e começou a carreira como treinador nos tempos do polêmico presidente. Iachini foi, também, o último comandante da Era Zamparini na Laguna de Veneza.

Iachini virou técnico em uma gestão de Zamparini e ficou muito tempo no comando do Palermo, mas terminou demitido sem meias palavras (Getty)

Em 2002, após recuperar as finanças do Venezia mas vê-lo cair para a segundona, Zamparini vendeu o clube e comprou o Palermo, que também estava na Serie B. O friulano trocou o clima geladinho do Vêneto pelas temperaturas quentes da Sicília e, próximo ao vulcão Etna, já chegou mostrando o seu estilo explosivo: seu primeiro ato como mandatário dos rosanero foi uma troca de técnico. O ex-jogador Roberto Pruzzo acabara de ser confirmado pela diretoria anterior, mas com a troca na gestão, o contrato foi cancelado: Zamparini contratou para seu lugar o desconhecido Ezio Glerean, que durou só uma rodada.

Em seu histórico, o friulano teve outra demissão após a 1ª rodada da Serie A: a de Stefano Colantuono, que terminou a campanha anterior, mas, desgastado, caiu após o primeiro fim de semana de 2008-09. Três anos depois, o cartola foi ainda mais radical: demitiu Stefano Pioli, recém-contratado, na pré-temporada. Ao todo, Zamparini trocou o responsável pelo cargo de técnico do Palermo 35 vezes em menos de 14 anos.

A média é superior à dos tempos de Venezia: os lagunari tinham uma média de 2 técnicos por ano, enquanto os palermitanos têm 2,5/ano. O presidente parecia estar reduzindo a sua média, uma vez que manteve o “pupilo” Iachini por um bom tempo no comando. O treinador de Ascoli Piceno conseguiu se manter no cargo por pouco mais de dois anos consecutivos, antes de cair pela primeira vez, no início de 2015-16. Ele é o recordista de dias à frente do Palermo na Era Zamparini, seguido por Francesco Guidolin e Delio Rossi, que não ficaram de forma contínua, no entanto.

O fato é que o Palermo poderia pendurar uma placa na frente de sua sede com a seguinte frase e uma lacuna: “Estamos há ___ dias sem trocar de técnico”. Quanto tempo demorará para Novellino cair?

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