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Glenn Peter Strömberg domou o machismo e mitou na Atalanta

O futebol da Suécia é um dos mais tradicionais da Europa, mas também é um dos que menos tem títulos, se pensarmos em sua importância. A única grande conquista dos escandinavos foi a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 1948 – sem falar no vice na Copa do Mundo de 1958, dois terceiros lugares em Mundiais, dois bronzes olímpicos e uma semifinal de Euro. Na Serie A, um time que pode ser comparado à seleção da Suécia é a Atalanta, uma das agremiações de maior história na Bota. Coincidência ou não, um dos maiores ídolos dos nerazzurri é o sueco Glenn Peter Strömberg.

Nascido em Gotemburgo, Strömberg por pouco não seguiu carreira em outro esporte: o tênis de mesa. Mesatenista de bom retrospecto, o sueco chegou a competir em uma seletiva olímpica, quando tinha 16 anos, mas preferiu dedicar-se ao futebol. Afinal, tinha uma proposta de um grande time em mãos: fechou com o IFK Gotemburgo em 1976.

Os primeiros anos pelo IFK foram irregulares, algo normal para um jovem jogador – principalmente considerando que, anos antes, ele se dedicava mais a outro esporte. Em 1979 Sven-Göran Eriksson deu espaço ao jogador alto e de porte físico avantajado, mas com bastante habilidade nos pés, domando-o: Strömberg era individualista e se adequou ao jogo coletivo do organizado time do novo treinador. Tanto é que se tornou uma das principais peças dos Blåvitt e foi fundamental para a conquista de três títulos: campeonato e copa suecas e a grande glória, a primeira Copa Uefa de um time do país.

Strömberg seguiu Eriksson para o novo desafio do treinador. Em janeiro de 1983 ele embarcou para Portugal, assinou com o Benfica e se tornou o guerreiro viking do meio-campo encarnado, recuperando bolas com valentia e armando o jogo com rapidez e qualidade. A passagem por Lisboa foi rápida, mas vitoriosa: em duas temporadas o sueco foi campeão português, vice da Copa Uefa e ainda marcou 10 gols em 32 partidas.

Naquele tempo, Strömberg já atuava pela seleção e era um dos grandes meias do futebol escandinavo. Em 1984, então, ele chegou ao principal campeonato do mundo: chegou à Atalanta com apenas 24 anos e fez valer o histórico de seus compatriotas na equipe orobica. Strömberg foi o quarto sueco da história de La Dea e teve tanto sucesso quanto Bertil Nordahl, Hasse Jeppson e Bengt Gustavsson, seus antecessores.

O meia sueco se tornou ídolo da Atalanta e contribuiu para o melhor momento dos nerazzurri (Eco di Bergamo)

O meio-campista foi a principal contratação para a volta dos orobici para a Serie A após cinco anos de ausência e logo se tornou peça-chave da equipe. Em três anos sob o comando do técnico Nedo Sonetti o camisa 7 atuou mais no meio-campo, sempre aliando o vigor e e sua força à qualidade técnica, mas também acabou sendo utilizado em várias outras funções. A fase do “anjo loiro” era tão boa que ele faturou o Guldbollen, prêmio dado ao melhor jogador sueco, em 1985.

Mas nem tudo eram flores para Strömberg. Dois anos depois, a Atalanta amargou o vice na Coppa Italia e caiu para a segundona, mas o sueco, que já era capitão da sua seleção, permaneceu. Para piorar, o preconceito e o machismo de muitos italianos fez com que fofocas sobre sua vida íntima fossem espalhados: dizia-se que ele seria homossexual e que até mesmo vivia com seu namorado sueco.

Por causa disso e dos longos cabelos loiros, o meia era chamado pejorativamente de Marisa. Certa vez, com raiva, o sueco pulou o alambrado do centro de treinamentos e fez torcedores que o importunavam calarem a boca: “Não sou Marisa. Me chamo Glenn. Glenn Strömberg, capitão da Suécia e da Atalanta. Não se esqueçam, nem vocês nem todos os outros”.

Tudo isso aconteceu pouco depois que seu novo treinador, Emiliano Mondonico, lhe confiou a faixa para a disputa da Serie B. Mondo e Strömberg tiveram afinidade logo de cara, pois eram fãs incondicionais dos Rolling Stones. Além disso, o sueco resistiu às propostas de Eriksson, que também estava no futebol italiano e queria levá-lo para a Roma. O meia preferiu permanecer em Bérgamo porque não queria ser tido como pupilo do seu compatriota.

Com a braçadeira, Strömberg cresceu ainda mais e se tornou símbolo do que é ser atalantino – uma verdadeira volta por cima. O sueco conduziu La Dea para a elite e às semifinais da Recopa, em 1988, e ganhou a companhia de Evair e Claudio Caniggia nos anos seguintes. O tridente ajudou a Atalanta a conseguir duas de suas melhores colocações na história da Serie A, classificando o time por duas vezes seguidas à Copa Uefa.

Em 1992, quando tinha acabado de completar 32 anos, Strömberg surpreendeu e anunciou sua aposentadoria ao fim daquela temporada. Embora ainda tivesse lenha para queimar, o meia central queria deixar o futebol com uma boa impressão. Conseguiu: foi ovacionado pela torcida na última rodada da Serie A.

Strömberg virou capitão da Atalanta e se aposentou no clube (Juha Tamminen)

Ao longo de oito anos vestindo nerazzurro, cinco deles como capitão, o nórdico conquistou o amor da torcida, que o elegeu como um dos maiores capitães de toda a história atalantina. Com 273 partidas, Strömberg é o estrangeiro com mais jogos pelo clube e o sétimo que mais vezes entrou em campo no ranking geral. O meia atalantino ainda comandou a seleção de seu país na Copa de 1990, disputada em solo italiano.

Depois de se aposentar, Strömberg voltou para o seu país e virou comentarista esportivo. Também se tornou empresário: apaixonado pela culinária italiana, lançou uma marca de produtos originários do país que o acolheu. De vez em quando o sueco viaja para Bérgamo, mas nem precisaria: sua memória está viva nas ruas da cidade lombarda.

Glenn Peter Strömberg
Nascimento: 5 de janeiro de 1960, em Gotemburgo, Suécia
Posição: meio-campista
Clubes como jogador: IFK Gotemburgo (1976-83), Benfica (1983-84) e Atalanta (1984-92)
Títulos: Copa Uefa (1982), Allsvenskan (1982), Copa da Suécia (1982), Campeonato Português (1983 e 1984) e Supercopa de Portugal (1983)
Seleção sueca: 52 jogos e 7 gols

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