Técnicos

Sven-Göran Eriksson, o comandante mais bem-sucedido da Lazio

Como atleta, sua carreira não teve muito destaque. Nos dez anos em que Sven-Göran Eriksson atuou como lateral direito, foram modestos 200 jogos e – incríveis – 33 gols, mas sempre em times de pouca expressão no futebol sueco. Depois que pendurou as chuteiras, aos 27 anos, por causa de uma grave lesão no joelho iniciou sua carreira como treinador. Foi aí que Svennis, como é carinhosamente chamado, passou a chamar a atenção do esporte mais adorado do planeta.

Eriksson começou como a treinar equipes de futebol um ano depois de sua lesão. Começou como auxiliar e logo ganhou um papel de mais destaque. Tinha apenas 29 anos quando treinou o Degerfors e fez a equipe subir para a segundona sueca. O técnico rapidamente ganhou projeção no cenário nacional: assinou de surpresa com o IFK Göteborg, um dos maiores times do país e, posteriormente, também brilhou em nível europeu, com o mesmo clube, vencendo a Copa Uefa. Nunca um time sueco tinha conquistado este título.

Depois disso, Eriksson foi para Portugal, e teve dois ótimos anos à frente do Benfica, com a conquista do bicampeonato local, o sucesso na Copa de Portugal e ainda um vice na Copa Uefa – ao todo, 76% de aproveitamento. Assim, o treinador teve como rumo o futebol italiano, chegando à Roma para assumir o posto deixado por seu compatriota Nils Liedholm, que havia retornado ao Milan após uma temporada quase perfeita. Quase, porque uma série de empates na reta final do Campeonato Italiano e um tropeço o qual os romanistas lamentam até hoje, na final da Copa dos Campeões contra o Liverpool – em pleno estádio Olímpico – deixaram os giallorossi com o vice-campeonato nas duas principais competições que disputou.

Após a desilusão do time giallorosso, Eriksson chegou para tentar melhorar o trabalho do seu antecessor. E sob muita euforia e com grandes perspectivas, afinal tinha em mãos uma geração magistral, comandada por Paulo Roberto Falcão, Bruno Conti, Carlo Ancelotti, Toninho Cerezo, Giuseppe Giannini, Franco Tancredi, Sebastiano Nela e Roberto Pruzzo, e sabia que a torcida precisava de um novo impulso após a tristeza que tomou conta da capital após a temporada anterior.

Liedholm, então no Milan, conversa com Eriksson, na Roma: o Barone abriu as portas do futebol italiano para o compatriota (Aftonbladet)

O início, porém, foi difícil. Controlar o ânimo de time e torcida foi uma tarefa complicada. Eriksson demorou a conseguir fazer com que os jogadores entendessem o seu estilo e os resultados demoraram a aparecer (a primeira vitória veio apenas na 9ª rodada). O mau começo foi refletido ao final da competição, na qual a Loba terminou apenas na sétima colocação.

A temporada seguinte foi muito mais animadora para a Roma e para Eriksson. Falcão deixou a equipe e voltou ao Brasil para se aposentar e foi substituído por Zbigniew Boniek. Os romanos terminaram o primeiro turno 6 pontos atrás da Juventus – em uma época em que as vitórias valiam 2 pontos –, mas conseguiram grande arrancada graças a Zibi e aos gols de Pruzzo, artilheiro do campeonato com 19 gols. Faltando duas rodadas para o fim, os giallorossi empataram em pontos com os bianconeri, mas perderam os dois compromissos restantes, não concretizaram a virada e ficaram com o vice. A decepção foi minimizada no mês seguinte, quando a Roma arrancou, superou Inter, Fiorentina e Sampdoria para ficar com a Coppa Italia.

O ano seguinte não foi bom, e a Roma decepcionou em todas as competições que disputou – Serie A, Coppa Italia e Recopa Europeia. Com isso, o sueco se demitiu ao fim da temporada. Logo arranjou emprego, pois seguiu prestigiado na Velha Bota: prontamente foi o escolhido para comandar a Fiorentina. A Viola vinha alternando boas e medianas campanhas na Serie A, e escolheu um nome de tarimba internacional para comandar uma renovação no time, que via a despedida do mito Giancarlo Antognoni.

Apesar de contar com Dunga, Ramón Diaz, Roberto Baggio e o compatriota Glenn Hysén, o treinador teve o que, para muitos, foi o seu grande fracasso na carreira. Campanhas medianas no Campeonato Italiano e na Coppa Italia fizeram com que a Fiorentina fosse a única equipe pela qual Eriksson não conquistasse um título. Foi também o time pelo qual o comandante tivesse seu pior desempenho na carreira, com apenas 32,8% de aproveitamento.

Pela Fiorentina, Eriksson acompanha o compatriota Glenn Hysén (Aftonbladet)

Depois de cinco anos na Itália, Eriksson voltou ao Benfica para tentar retomar o sucesso que o fez despontar no cenário europeu. No Estádio da Luz, conduziu novamente o Benfica ao título português e à final da Copa dos Campeões, onde perdeu para o Milan de Arrigo Sacchi. Os ares lusos deram um novo rumo à carreira de Eriksson que, mais experiente voltou à Itália para comandar a Sampdoria.

Tendo Gianluca Pagliuca, Moreno Mannini, Pietro Vierchowod, Attilio Lombardo e Roberto Mancini como principais jogadores, a Samp não passou de uma modesta campanha na primeira temporada do sueco no comando da equipe. Na segunda temporada, já com Ruud Gullit e David Platt no time, Eriksson teve sua melhor fase à frente da equipe blucerchiata. Os dorianos superaram a morte do presidente Paolo Mantovani e chegaram a brigar pelo título, mas acabaram ficando atrás do Milan de Fabio Capello e da Juventus de Giovanni Trapattoni. A campanha 1993-94 terminou em título, também. A Samp estraçalhou o Ancona, fez 6 a 1 na final da Coppa Italia e levantou seu quarto e último troféu do torneio.

Eriksson ficou na Sampdoria até 1997, mas a morte de Mantovani acabou fazendo com que seu filho Enrico cortasse uma boa parte dos investimentos no time. Dessa forma, a Samp teve temporadas mais modestas até o final do seu trabalho, e o melhor momento neste período foi a chegada da equipe à semifinal da Recopa, onde caiu para o Arsenal.

Apesar de ter conquistado apenas duas Copas da Itália em nove anos de trabalho na Itália, Eriksson continuou valorizado por causa de seus conceitos táticos, trato com os jogadores e grande habilidade como diretor técnico. Por isso, foi a aposta de Sergio Cragnotti para assumir uma Lazio endinheirada, em julho de 1997. O retorno a Roma foi celebrado pelo treinador.

Eriksson teve passagem longa e produtiva pela Sampdoria (Popperfoto/Getty)

Com muito dinheiro à disposição, Eriksson chegou para fazer da Lazio novamente campeã italiana e celebrar o centenário da equipe, na virada do milênio. Além disso, sagrou-se o técnico mais vitorioso da história do clube, com sete troféus levantados. Quando Eriksson chegou, a Lazio tinha em seu palmarés apenas uma Serie A (1974) e uma Coppa Italia (1958). Atualmente, a equipe tem 15 títulos em sua história, para se ter uma ideia do sucesso do treinador em Formello.

O sueco começou seu trabalho utilizando a base formada por Zdenek Zeman, com Alessandro Nesta, Paolo Negro, Giuseppe Favalli e Pavel Nedved, e adicionou Alen Boskic, Matías Almeyda, além de Vladimir Jugovic e Roberto Mancini, treinados por ele na Sampdoria – Mancio, a partir dos anos de Samp, viraria um pupilo do treinador.

Em seu primeiro ano no lado biancoceleste da capital, Eriksson se desentendeu com Giuseppe Signori, um dos maiores ídolos do clube, que acabou cedido à Sampdoria em dezembro. No entanto, o sueco não ficou de mal com a torcida, uma vez que a Lazio bateu a Roma nos quatro dérbis da temporada (dois pela Serie A e dois pela Coppa Italia), recorde absoluto e comemorado com uma placa instalada no CT de Formello. Apesar de concluir a Serie A apenas na sétima colocação, a Lazio faturou a copa nacional (a terceira de Eriksson) e chegou à final da Copa Uefa – acabou derrotada pela Inter comandada por Ronaldo.

Na temporada seguinte, já com novos e importantes jogadores, como Sinisa Mihajlovic – outro velho conhecido dos tempos de Samp – Dejan Stankovic, Fernando Couto, Christian Vieri e Marcelo Salas, conquistou a Recopa e a Supercoppa da Itália, e quase levantou pela primeira vez o caneco na Serie A. O time não ficou com o scudetto por apenas um ponto: foram 69 pontos ganhos contra 70 do campeão Milan, que estava na vice-liderança e conseguiu a virada na penúltima rodada – assim como quando comandou a rival Roma, no final dos anos 1980, Eriksson ficava com o gosto amargo de perder o scudetto duas rodadas antes do fim da temporada. Porém, cheio de bons jogadores para comandar, o sueco poderia contar que as grandes conquistas não demorariam a vir.

Eriksson é o técnico com mais títulos na história da Lazio (Allsport)

Em meio aos preparativos para a celebração de seu centenário, a Lazio iniciou a temporada 1999-2000 de maneira promissora. Eriksson tinha o time em mãos e ganhou a Supercopa da Europa logo na abertura da temporada. Na Serie A, os bons resultados também apareceram e os reforços de Juan Sebastián Verón e Diego Simeone engrenaram rapidamente no time que viria a ser campeão italiano daquela temporada e entraria para a história.

Para completar de vez a felicidade do torcedor laziale, Eriksson ainda levou seus comandados a mais um título da Coppa Italia, fazendo a dobradinha – até hoje, ele é o único treinador a conquistar campeonato e copa em três países europeus diferentes; Suécia, Portugal e Itália. Na Champions League a Lazio também foi longe, mas parou nas quartas de final. A festa em Roma coroou de vez a carreira do sueco que entraria para o hall dos principais treinadores do período.

A ressaca pós-festa só começaria na temporada seguinte, com resultados menos expressivos. A temporada começou com Mancini aposentado e fazendo as vezes de auxiliar técnico do treinador à beira do campo – para seu lugar, foram contratados Hernán Crespo e Fabrizio Ravanelli. 2000-01 teve o título dos aquilotti na Supercopa da Itália, mas nada mais que isso. Terminaria no meio daquela campanha, também, a passagem de Eriksson no comando da Lazio. O sueco recebera uma proposta quase irrecusável para treinar a seleção inglesa, que disputaria a Copa do Mundo de 2002, e deixou a Lazio em 9 de janeiro.

Svennie seria o primeiro estrangeiro a guiar o English Team, e ficaria no comando da Inglaterra até o final da Copa seguinte, quando foi demitido pela falta de títulos – caiu nas quartas de dois Mundiais e de uma Euro. O fim de sua passagem pelo English Team era o início de sua decadência no mundo da bola.

Na Itália, Eriksson desenvolveu amizade e ligação profissional com Mancini, de quem foi mentor (Allsport)

Após ser demitido pela FA, Eriksson treinou o Manchester City e a seleção mexicana sem nenhum sucesso. Depois mudou de cargo e assumiu como diretor de futebol do modesto Notts County, então na terceira divisão inglesa. Em 2010 voltou a disputar um Mundial, comandando a Costa do Marfim, numa passagem rápida e sem sucesso, novamente – ter caído no mesmo grupo que Brasil e Portugal não ajudou, também. Eriksson ainda treinou o Leicester por uma temporada, antes de rumar para centros alternativos, como Índia, Emirados Árabes e China, onde atualmente comanda o Shanghai SIPG.

Apesar da decadência na carreira, até hoje o sueco é lembrado por sua contribuição ao futebol da Bota, que tanta ligação tem com técnicos e jogadores escandinavos. Eriksson é, claro, ligado sobretudo à torcida da Lazio, que o tem como o treinador de sua fase áurea.

Sven-Göran Eriksson
Nascimento: 5 de fevereiro de 1948, em Sunne, Suécia
Clubes como jogador: Torsby (1966-71), Sifhalla (1971-72), Karlskoga (1972-73) e Vastra Frolunda (1973-75)
Clubes como treinador: Degerfors (1977-78), IFK Göteborg (1979-82), Benfica (1982-84 e 1989-92), Roma (1984-87), Fiorentina (1987-89), Sampdoria (1992-97), Lazio (1997-2001), Inglaterra (2001-06), Manchester City (2007-08), México (2008-09), Costa do Marfim (2010), Leicester City (2010-11), Guangzhou R&F (2013-14) e Shanghai SIPG (2014-atual)
Títulos como treinador: Copa da Suécia (1979 e 1982), Campeonato Sueco (1982), Copa Uefa (1982), Campeonato Português (1982-83, 1983-84 e 1990-91), Copa de Portugal (1982-83), Campeonato Italiano (1999-2000), Coppa Italia (1985-86, 1993-94, 1997-98 e 1999-2000), Supercopa de Portugal (1989-90), Supercoppa da Itália (1997-98 e 1999-2000), Recopa da Europa (1998-99) e Supercopa da Europa (1998-99)

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