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Corrado Ferlaino, o engenheiro do Napoli

Corrado Ferlaino é considerado um ser “folclórico” no futebol italiano, e quase um Deus na cidade de Nápoles. Surpreendeu toda a imprensa italiana quando, em 18 de janeiro de 1969, se tornou o presidente do Napoli, destituindo, assim, a família Lauro do topo da gestão do clube – embora tivesse a bênção do clã no momento em que adquiriu as cotas de Antonio Corcione, falecido após poucos meses na direção. Na época, ele era conhecido somente como um jovem engenheiro de escassas palavras, com meses nos bastidores da agremiação. Hoje, é lembrado como um empreendedor decidido e astuto.

Desde o início de sua gestão, Ferlaino teve uma relação de amor e ódio com a torcida napolitana. Ódio esse que mais tarde seria esquecido pela grande maioria, devido ao seu temperamento forte e decidido, capaz de equilibrar o orçamento do clube. Em sua gestão, vendeu jogadores idolatrados pela torcida (um exemplo foi a venda de Dino Zoff), mas também fez aquisições importantes, como as de Giuseppe Savoldi, que foi comprado por uma quantia elevada para a época, Ruud Krol, o mentor da fabulosa seleção holandesa, e sobretudo, a compra de Diego Armando Maradona, que dispensa comentários, junto ao Barcelona.

Ferlaino celebra ao lado de Maradona, sua principal contratação (Getty)

O presidente mobilizou toda a cidade, inclusive os políticos, para conseguir a compra do argentino, considerada improvável, também por causa de sua má relação com os dirigentes do clube espanhol. Segundo algumas histórias, o presidente teria blefado, depositando um envelope vazio na federação italiana, onde deveria estar o contrato do jogador. A manobra foi pensada o clube ganhar tempo e conseguir levantar o dinheiro para a compra do argentino. Maradona chegou ao Estádio San Paolo em um helicóptero, aclamado pela torcida, que ainda custava a acreditar na contratação do craque.

Durante sua gestão, que durou até o ano 2000, salvos alguns intervalos, o Napoli viveu seus “Anos de Ouro”. Foi com Corrado Ferlaino no comando que o time conquistou quase todos os títulos de sua história, incluindo dois scudetti e uma Copa Uefa, as maiores conquistas dos azzurri. Logo após assumir a presidência, recuperou o equilíbrio orçamentário do clube e, devido a esse feito, recebeu a “Estrela de Mérito Esportivo”, dada pelo Comitê Olímpico Italiano.

O engenheiro foi também personagem de assuntos polêmicos, como a proteção que ele dava à Maradona, para este não ser flagrado no exame anti-doping. Anos mais tarde, ele explicou como ajudava o “Pibe de Oro” a burlar o exame: era usada uma espécie de bomba com a urina de outro jogador, que o argentino usava durante os exames, para, desta forma, não ser autuado pelo uso de cocaína. Após o exame, o jogador era liberado para usar a droga, mas devia estar “limpo” um dia antes do próximo exame. Certa vez, Maradona mentiu ao dizer que estava “limpo” e o resultado do exame deu positivo. O fato deixou claro o vício do jogador pelas drogas e culminou na sua saída do clube.

À beira do campo, o presidente comemora o primeiro scudetto do Napoli, em 1987 (Getty)

Ferlaino saiu de cena em 1993, quando vendeu todas as suas ações no clube. Pouco depois, voltou a presidência e assumiu o Napoli em crise, abarrotado de dívidas. Viu o time cair para a Serie B em 1997/98, e voltar à elite do futebol italiano dois anos depois. Em seguida, surgiu um novo sócio: Giorgio Corbelli, que comprou 50% das ações do clube. Logo depois, Salvatore Naldi também se tornou sócio. Depois de uma série de polêmicas, recursos e contra-recursos, Corbelli e Naldi compraram as ações de Ferlaino, e assumiram o controle total da sociedade.

A partir daí, o engenheiro deixou o mundo do futebol, excluindo-se uma breve passagem como presidente do Ravenna. Até hoje, no entanto, continua dando suas opiniões sobre o time, fato que o torna ainda mais querido entre os napolitanos. É, sem dúvida, uma das maiores figuras do futebol italiano. Apaixonado por automobilismo, chegou até a competir na categoria e foi também aviador. Atuando nos bastidores, mas nunca muito discreto, Corrado Ferlaino tornou-se parte do folclore do futebol de Nápoles e da Itália.

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