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Ruggiero Rizzitelli: carrasco da Juventus nos tempos de Torino

Grandes atacantes com a camisa do Torino são uma tradição do futebol italiano. Se hoje Andrea Belotti faz um sucesso estrondoso na Serie A, goleadores como Julio Libonatti, Silvio Piola, Guglielmo Gabetto, Valentino Mazzola, Paolo Pulici, Francesco Graziani e Walter Casagrande já vestiram grená com a mesma competência. No entanto, Ruggiero Rizzitelli foi o último bomber desta linhagem a fazer mais de 10 gols em duas temporadas consecutivas pelo Toro antes de Belotti quebrar esta marca, que durava 20 anos.

Se foi no Torino que Rizzitelli atingiu o seu ápice em atuações e número de redes balançadas, não foi apenas no Piemonte que fez sucesso. Nascido na Apúlia, Ruggiero foi notado por olheiros do Cesena quando tinha 14 anos e viajou para o norte da Itália, onde iniciaria sua formação nas categorias de base dos bianconeri. Na Emília-Romanha, o jogador de 1,77m fez da velocidade a sua principal arma e, por isso, se consolidou como um atacante de lado de campo. Rizzitelli, porém, também sabia atuar centralizado, como suporte a um centroavante de estilo mais físico, ou poderia ser improvisado como comandante do setor, pois – embora não fosse alto – tinha habilidade no cabeceio.

A estreia do jogador apuliano no time profissional do Cesena aconteceu em 1985-86, temporada em que os cavalos marinhos estavam na Serie B. Rizzitelli fez somente seis partidas naquele torneio, mas ganhou mais oportunidades no ano seguinte: o atacante de 19 anos entrou 26 vezes em campo e foi um dos destaques do acesso dos romanholos à Serie A, obtido com a terceira posição. Na elite, Ruggiero manteria a vaga no onze inicial cesenate, ao lado de jogadores que já estavam no elenco, como o goleiro Sebastiano Rossi e o zagueiro Lorenzo Minotti, e de outros que seriam contratados e ocupariam posições de destaque, como os meias Agostino Di Bartolomei e Alessandro Bianchi.

Em seus primeiros momentos nos palcos mais importantes do futebol do Belpaese, Rizzitelli anotou cinco gols em 30 jogos. Suas ótimas atuações ajudaram a equipe bianconera a terminar a temporada na honrosa 9ª posição, e também he proporcionaram as primeiras convocações para a seleção sub-21 da Itália, treinada por Cesare Maldini. Mas não só: grande revelação italiana na temporada 1987-88, Rizzitelli foi o primeiro jogador do Cesena a ter sido chamado para a seleção principal azzurra. Depois de impressionar Azeglio Vicini em três amistosos, o atacante integrou o elenco da Nazionale na Euro 1988, mas não entrou em campo.

Ao fim da temporada 1987-88, Rizzitelli foi uma das contratações feitas pelo presidente Dino Viola para fazer a Roma voltar a disputar o scudetto: custou 9 bilhões de velhas liras, na soma do valor pago em espécie e dos passes do atacante Massimo Agostini e do meia Sergio Domini, que se transferiram ao Cesena. O atacante se integrou ao time da capital depois de disputar os Jogos Olímpicos de Seul – a Itália foi quarta colocada no torneio – e marcou seu primeiro gol diante do Lecce, na segunda vez em que vestiu a camisa romanista.

Em seis anos na Cidade Eterna, Rizzitelli chegou a marcar gol em final europeia (imago/HJS)

O primeiro ano na Cidade Eterna não foi tão bom para o apuliano, já que a Roma não se acertou: trocou de treinador duas vezes e outros grandes reforços, os brasileiros Andrade e Renato Gaúcho, fracassaram retumbantemente. A temporada terminou de forma ainda mais melancólica pois o jogo-desempate contra a Fiorentina, que valia uma vaga na Copa Uefa, teve gol marcado por Roberto Pruzzo, que deixara a Roma para que a equipe se renovasse.

As temporada sucessivas, porém, foram mais brilhantes para o jogador, que ganhou o apelido de Rizzi-gol. Ruggiero atuou nas 34 partidas da Roma na Serie A, como parceiro de ataque de Rudi Völler e era um dos encarregados de deixar o alemão em condições de fazer gols – com assistências de Rizzitelli, Bruno Conti e Giuseppe Giannini, Rudi fez 14. Com cinco tentos, o apuliano ajudou a Loba a voltar às competições europeias, uma vez que o 6º lugar valia uma vaga na Copa Uefa. Na Coppa Italia, Rizzitelli marcou três gols, mas a Roma foi eliminada pela Juventus nas semifinais.

O terceiro ano de Rizzi-gol na capital foi o mais frutífero dos pontos de vista coletivo e pessoal. Ele não entrou em campo tantas vezes na Serie A, mas se destacou nos dois fronts em que a Roma competiu com mais força: o atacante atuou em oito dos 10 jogos da Loba na conquista da Coppa Italia e, com quatro gols, foi um dos artilheiros da competição, ao lado de Völler. Rizzitelli quase ganhou sua segunda taça com a camisa romana naquela mesma temporada 1990-91, mas acabou não conseguindo evitar o vice na Copa Uefa diante da Inter. Na partida de volta das finais, Ruggiero fez o gol da vitória romana – seu quarto na competição –, mas os nerazzurri ficaram com o título pois venceram o jogo de ida por 2 a 0.

Até 1994, Rizzitelli continuou ocupando lugar de destaque na Roma, mas a equipe não conseguia grandes resultados: em meio a uma crise financeira, seus melhores momentos foram o 5º lugar na Serie A, em 1992, e o vice da Coppa Italia, no ano seguinte. Ruggiero, que ficaria conhecido por ter sido o jogador que deu lugar a Francesco Totti em sua primeira partida como profissional, em 1993, deixou a Cidade Eterna exatamente por causa da situação econômica da agremiação: aos 27 anos, acabou recebendo uma proposta do Torino e foi jogar no Piemonte. Querido pela torcida da Loba, Rizzi-gol fez 211 partidas e balançou as redes 55 vezes em seis anos de Roma.

Se os números de Rizzitelli já eram interessantes pelo fato de ele não ser um jogador que não atuava como principal terminal ofensivo da equipe, os dois anos em Turim foram mais satisfatórios ainda. O Torino era um time que, após as conquistas dos tempos do técnico Emiliano Mondonico, estava à beira do colapso financeiro e se mantinha no meio da tabela com dificuldades. Com Rizzitelli no time, o Toro não mudou de patamar, mas colocou mais medo em seus adversários.

O primeiro ano vestindo grená foi o melhor da carreira de Rizzi-gol. O apuliano formou um trio de ataque insidioso, com Andrea Silenzi e Abedi Pelé, e foi responsável por 19 gols na Serie A 1994-95, competição em que foi o terceiro maior goleador. O primeiro turno de Rizzitelli foi apenas regular, mas o atacante cresceu muito na segunda parte da temporada e emplacou 14 gols no período. Seus melhores momentos foram os dois gols marcados contra a Roma, seu ex-time, em ambos os jogos da temporada, e as duas vezes em que anotou uma doppietta contra a arquirrival Juventus. As duas vitórias no clássico contra a Velha Senhora seriam as últimas em 20 anos do confronto – o Toro só voltaria a bater a Juve em abril de 2015.

Em 1995-96, a crise econômica do Torino se agravou. Os efeitos de uma diretoria sem rumo se fizeram sentir em campo, e a equipe acabou trocando de técnico duas vezes – uma delas após uma derrota de 5 a 0 para a Juventus no dérbi, que valeu a cabeça de Nedo Sonetti. Rizzitelli bem que tentou ajudar e anotou 11 gols, mas nenhum deles com o mesmo peso dos anotados na temporada anterior. No final das contas, o Toro concluiu o campeonato oito pontos atrás do Piacenza, último fora da zona de rebaixamento, e acabou caindo para a segundona. Foi a porta de saída para Rizzi-gol, que acertou com o Bayern Munique após a ótima média pelos granata – 31 tentos em 64 partidas.

No Bayern Munique, treinado por um italiano, Rizzitelli superou todas as dificuldades e se firmou (Getty)

Rizzitelli chegou à Baviera para atender a um pedido de Giovanni Trapattoni, comandante dos Roten. O atacante do sul da Bota se adaptou rapidamente à Bundesliga e, com a confiança de Trap, tinha a titularidade assegurada. Em 25 partidas no campeonato nacional alemão, vencido pelo Bayern, Rizzi-gol marcou oito vezes, sendo um dos vice-artilheiros da equipe – ficou atrás apenas de Jürgen Klinsmann. Naquele ano, os bávaros também garantiram o título da Copa da Liga Alemã.

Em seu segundo ano na Alemanha, Rizzitelli perdeu espaço no time titular, graças às chegadas de Élber e Thorsten Fink, mas ainda foi um dos quatro reservas mais utilizados por Trapattoni. O título da Copa da Alemanha não aplacou, no entanto, o fracasso na Bundesliga – o Bayern foi vice-campeão, mas era favorito à salva de prata –, e o treinador italiano deixou o clube de Munique. Ruggiero, seu pupilo, o acompanhou.

Se Trap acertou com a Fiorentina, Rizzitelli teve um destino mais modesto: aos 31 anos, o atacante defenderia o Piacenza, clube com o qual assinou a custo zero. Ruggiero se juntaria a Pietro Vierchowod e Giovanni Stroppa como o terceiro jogador de currículo vitorioso do elenco biancorosso, mas, ao contrário dos colegas, receberia pouco espaço na modesta equipe emiliana – o motivo foi a explosão de Simone Inzaghi, que seguia os passos do irmão Pippo.

Na primeira temporada, o Piacenza se salvou do rebaixamento, mas Ruggiero não marcou nenhuma vez em 12 jogos – ao contrário, acumulou dois cartões vermelhos e ainda um gancho de três rodadas por causa de uma briga com adversários da Salernitana. Rizzitelli recebeu a titularidade na segunda temporada, já que Inzaghi partiu para a Lazio, mas passou longe de evitar a queda dos papaveri como lanternas absolutos da Serie A. Rizzi-gol não fez jus ao apelido e balançou as redes apenas uma vez, metaforizando o anêmico ataque piacentino na temporada 1999-2000: os lupi fizeram somente 19 gols em 34 partidas.

Com 33 anos, Rizzitelli já se encaminhava para a aposentadoria e estava sem contrato. Em outubro de 2000, o atacante decidiu dar uma ajuda à equipe que o revelou ao futebol e assinou com o Cesena, que estava na Serie C1. Ruggiero era o destaque da equipe, ao lado do ex-colega Bianchi, mas seus seis gols em 14 jogos não foram o bastante: a dupla não conseguiu levar os cavalos marinhos à Serie B e anunciou a aposentadoria.

Depois de encerrar a carreira, Rizzitelli integrou o elenco do programa Quelli che il calcio, da emissora RAI, encenando, junto a outros ex-jogadores os gols mais importantes das rodadas da Serie A. Após deixar a rede de TV pública italiana, em 2002, Ruggiero abriu um restaurante e foi comentarista da Sky. Atualmente, é residente das transmissões da TV oficial da Roma, onde dá pitacos sobre sua antiga equipe.

Ruggiero Rizzitelli
Nascimento: 2 de setembro de 1967, em Margherita di Savoia, Itália
Posição: atacante
Clubes como jogador: Cesena (1984-88 e 2000-01), Roma (1988-94), Torino (1994-96), Bayern Munique (1996-98) e Piacenza (1998-2000)
Títulos conquistados: Coppa Italia (1991), Bundesliga (1997), Copa da Liga Alemã (1997) e Copa da Alemanha (1998)
Seleção italiana: 9 jogos e 2 gols

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