Copa do Mundo

As piores campanhas da Itália em Copas

Nesta semana, pela segunda vez consecutiva, a Itália foi eliminada na fase de grupos de uma Copa do Mundo. Não dá para dizer que é novidade. A Squadra Azzurra é tetracampeã mundial e, ao lado da Alemanha, só não jogou mais Copas do que o Brasil, que atuou nos 20 Mundiais. Porém, das 18 vezes que jogou o torneio, em sete ocasiões a Itália caiu logo na primeira fase. Isso aconteceu de forma consecutiva entre os anos 50 e 60, pior momento da história da seleção, e as duas quedas precoces nas últimas Copas são um sinal de alerta. Aproveitando o fiasco italiano, elencamos as piores campanhas da Nazionale em sua história. Vamos a elas.

A aposta num Cannavaro em decadência foi um dos fatores que levaram à queda da Itália em 2010 (Getty)

1º lugar: Copa de 2010

Sem dúvidas, a aventura da Itália na África do Sul resultou na pior campanha azzurra em sua história. Naquele momento, a seleção encerrava uma trajetória de 36 anos em que se classificava, no mínimo, às oitavas do mundial. O último fiasco havia acontecido em 1974, quando Valcareggi havia feito o mesmo que Lippi: apostou em um time demasiadamente envelhecido. Em um dos grupos mais fracos daquela Copa, a Itália não venceu nenhum jogo, algo inédito na história da Nazionale em Copas. Os azzurri conseguiram a proeza de empatar com a Nova Zelândia, e também pararam nos mais fortes (mas nem tanto), Paraguai (empate) e Eslováquia (a fatídica derrota que valeu a eliminação). Resultado: a última colocação do Grupo F e a 25ª colocação geral.

Apesar do vexame, a sensação à época era mesmo a de que a Itália não iria longe na Copa do Mundo. O técnico Marcello Lippi era muito criticado por sua teimosia. Responsável pelo tetra, quatro anos antes, retornava à seleção substituindo Roberto Donadoni e levava consigo alguns dos campeões em 2006, já bastante envelhecidos, como Cannavaro, Camoranesi, Zambrotta e Gattuso, e outros que pouco acrescentavam, como Iaquinta, Pepe e Bocchetti.

Lippi foi criticado por não ter sido coerente com suas escolhas: se queria levar jogadores campeões em 2006, poderia ter dado espaço a Totti e Del Piero, que viviam boas fases. A falta de qualidade técnica do elenco era clara, e Lippi também foi criticado por – simplesmente por motivos pessoais – não ter convocado Balotelli, Cassano e Miccoli, e por ter dado poucas chances a Pazzini e Di Natale. É verdade que as lesões de Buffon e Pirlo, que jogaram poucos minutos no Mundial, também atrapalharam.

Dividida entre o goleiro Li Chan-myung e os italianos Romano Fogli e Marino Perani na fatídica derrota da Itália para a Coreia do Norte em Middlesbrough (Getty Images)

2º lugar: Copa de 1966

A segunda pior campanha da história da Squadra Azzurra aconteceu na Inglaterra. Na década de 1960, Inter e Milan dominavam o futebol italiano e, juntamente com Real Madrid e Benfica, eram os reis do cenário europeu. No planeta, apenas o Santos de Pelé e o Peñarol batiam de frente com as equipes. Porém, a seleção italiana vivia o pior momento de sua história, que chegou ao auge naquele Mundial. Entre 1950 e 1966, a Itália não conseguiu classificação à segunda fase da Copa do Mundo, e em 1958 não chegou nem mesmo a se qualificar ao Mundial – pela única vez na história, já que em 1930, a Itália não jogou o Mundial porque não aceitou o convite para participação. Na Copa da Inglaterra, o vexame foi pior que nos anos anteriores e se constituiu em um verdadeiro choque.

Em 1966, o elenco italiano era forte o suficiente para competir com os principais favoritos ao título – Inglaterra, dona da casa, a sempre forte Alemanha e um envelhecido Brasil. União Soviética, Portugal e Uruguai, assim como os italianos, corriam por fora. A Itália estreou bem, vingando derrota para o Chile na edição anterior, e fez 2 a 0, gols de Sandro Mazzola e Barison. Porém, a URSS freou a Itália no jogo seguinte.

Um simples empate contra a estreante Coreia do Norte classificaria a Itália, mas Pak Doo-ik, no final do primeiro tempo, decretou a vitória da desconhecida seleção asiática, que se sagrou a primeira do continente a passar da fase de grupos em um Mundial. A Itália, que tinha jogadores como Mazzola, Rivera, Albertosi, Bulgarelli, Facchetti, Burgnich e Pascutti, fracassava. Dois anos depois, a Itália seria campeã europeia e, quatro anos depois, ficaria com o vice-campeonato mundial.

Oscilações de Balotelli e derrota para a Costa Rica foram fundamentais para a precoce despedida italiana do Brasil, em 2014 (AFP/Getty)

3º lugar: Copa de 2014

Cesare Prandelli parecia ser o homem certo para levar a Itália a uma boa campanha em uma Copa do Mundo, após o fracasso em 2010. Em quase quatro anos no cargo, experimentou jovens e deu à Itália um futebol propositivo, de posse de bola efetiva, no campo de ataque, e com boa média de gols marcados. Foi vice-campeão da Euro 2012 e terceiro colocado na Copa das Confederações. Porém, na Copa do Mundo, abriu mão de suas convicções e conduziu a Itália a um dos maiores fracassos de sua história futebolística.

Prandelli viu a sua Itália ser sorteada em um dos grupos mais complicados da competição, com três campeãs mundiais. No Grupo D, que também tinha Uruguai e Inglaterra, a Costa Rica era o azarão. E foi a pedra no sapato da Itália. Depois de estrear muito bem contra a Inglaterra, no calor e umidade de Manaus, a Itália jogou muito mal em Recife e foi derrotada pelos Ticos, comandados por Campbell e Ruiz. Na decisão contra o Uruguai, a Itália também jogou mal, contou com problemas disciplinares por parte de Balotelli e uma rigorosa expulsão de Marchisio (justamente os autores dos dois únicos gols da Azzurra no Brasil) e sucumbiu frente a problemas físicos e à Celeste, em Natal.

Se arrastando em campo e com um futebol que em nada dizia respeito ao proposto, apesar da boa convocação, a Itália de Prandelli chegou a sua quarta derrota em jogos oficiais (as duas anteriores haviam sido na final da Euro 2012, para a Espanha, e na Copa das Confederações, para o Brasil). Perdeu quando não podia e colocou a evolução do futebol italiano em xeque.

Em 1974, um grande time da Itália ficou fora do mata-mata por causa da Polônia, sensação do Mundial (Colorsport)

4º lugar: Copa de 1974

Vice-campeã mundial em 1970, a Itália foi para o torneio disputado na Alemanha Ocidental como uma das favoritas a ficar com o caneco, que para os azzurri não chegava há 36 anos, desde que o bicampeonato foi conquistado, em 1938. Valcareggi, técnico da equipe, fez como Lippi em 2010: apostou na envelhecida base que tinha feito um ótimo Mundial anterior. E quebrou a cara.

A equipe era ótima, no papel. Tinha Zoff, Albertosi, Facchetti, Mazzola, Rivera, Burgnich, Riva, Causio, Boninsegna, Capello, Anastasi e Chinaglia, Re Cecconi e Wilson, trio que foi destaque no scudetto conquistado pela Lazio. Porém, os anos a mais nas pernas pesaram, e o time não rendeu o esperado em um grupo que tinha Haiti, a Argentina de Kempes, Perfumo, Wolff, Ayala, Heredia e Houseman e a Polônia de Lato, surpresa da Copa.

Os italianos estrearam no Grupo 4 fazendo 3 a 1 nos haitianos, de virada. No segundo jogo, a Itália também saiu atrás, mas ficou no empate contra a Argentina: 1 a 1. No último jogo do grupo, a equipe conseguiu evitar que o artilheiro Lato fizesse gols, mas o 2 a 1 sofrido ante a Polônia desclassificou os italianos. No mesmo horário, a Argentina enfrentava o Haiti e venceu por 4 a 1. Dessa forma, os azzurri não passaram à fase seguinte por causa de um gol a menos de saldo.

Pancadaria com o Chile, anfitrião da Copa de 1962, marcou a visita italiana à América do Sul (Popperfoto/Getty)

5º lugar: Copa de 1962

Após não garantir a classificação ao Mundial da Suécia, em 1958, depois de ser eliminada pela Irlanda do Norte, a Itália viajou para o Chile, em 1962, com um bom elenco. Treinada por Paolo Mazza e Giovanni Ferrari, a equipe tinha jogadores do calibre de Trapattoni, Cesare Maldini, Sívori, Radice, Salvadore, Lorenzo Buffon, Albertosi, Pascutti, Bulgarelli e os ítalo-brasileiros Sormani e Altafini. Porém, o grupo em que os italianos caíram não era nada fácil: tinha os chilenos, donos da casa, a Alemanha Ocidental de Seeler, Schnellinger e Haller, e a Suíça defensiva do técnico austríaco Karl Rappan, precursor do catenaccio.

Depois de estrear com um 0 a 0 frente aos germânicos, a Itália enfrentaria o Chile. Os jogadores chilenos estavam mordidos com as ferozes críticas de cronistas europeus ao fato de que um país subdesenvolvido e que havia sido vitimado por um terremoto dois anos antes pudesse sediar um Mundial. Antes da Copa, jornalistas italianos chegaram a ser expulsos do país. O fato de os azzurri Sívori e Maschio serem argentinos de nascimento também aumentava a rivalidade com La Roja. A partida, que ficou conhecida como a Batalha de Santiago, foi extremamente sangrenta e cheia de intervenções da polícia. Nem adiantou a Itália ter entrado em campo com buquês de cravos brancos para a torcida, em tentativa de selar a paz com os chilenos – foram vaiados.

Logo aos 7 minutos, o italiano Ferrini foi expulso após revidar falta dura de Landa. Na sequência, enquanto os jogadores discutiam com o árbitro Aston, Sánchez deu um murro e quebrou o nariz de Maschio. Como as substituições não eram permitidas à época, ele teve de ser macho (com o perdão do trocadilho) e jogar até o final. Aos 41 minutos, após nova confusão, Sánchez escapou de ser expulso novamente, pois o árbitro não viu um murro dele em David, após falta. O italiano revidou em jogada seguinte, com um chute nas costas, e aí sim o juizão inglês viu – e o expulsou. Com dois a menos e um jogador lesionado em campo, a Itália sofreu 2 a 0, com gols no segundo tempo, e não reagiu. Após a derrota, a equipe italiana viu a Alemanha Ocidental passar pelo Chile e apenas pode se despedir da Copa com um 3 a 0 sobre a Suíça, em jogo para cumprir tabela. Os italianos foram a maior decepção daquela Copa, juntamente com a Espanha de Gento, Suárez, Puskás e de um machucado Di Stéfano, que também caiu na fase de grupos.

A Itália perdeu craques em acidente aéreo e não conseguiu redesenhar sua equipe para a disputa do Mundial de 1950, no Brasil (Arquivo/Fifa)

6º lugar: Copa de 1950

Durante toda a década de 1940, a Serie A foi dominada pelo Torino. A equipe granata venceu cinco dos sete campeonatos disputados naquela década e, naturalmente, era a base da seleção italiana. Por causa da II Guerra Mundial, não houve Copa em 1942 e 1946, anos em que a Itália seria uma das favoritas pelo título, e edições do Mundial em que craques como Valentino Mazzola, Loik, Rigamonti e Gabetto poderiam brilhar. Em 1950, eles também poderiam jogar, mas o desastre aéreo de Superga matou todo o Grande Torino e desfalcou a seleção italiana para o Mundial, do qual participava por convite, por ter sido campeã na edição anterior, em 1938.

Dessa forma, a Itália embarcou para o Brasil de navio, e não de avião. A delegação teve todas as despesas pagas pela Fifa, uma vez que o país havia sido arrasado pela guerra. No grupo de jogadores que vieram ao Brasil, sem os craques do Torino, destacavam-se o interista Amadei e os juventinos Parola e Boniperti (ainda jovem, com 22 anos).

Jogando no Grupo 3, ao lado de Suécia e Paraguai (a Índia desistiu de participar do Mundial), a Itália estreou no Pacaembu frente a Suécia, e sofreu uma virada: 3 a 2. Andersson e Jeppson, autores dos gols escandinavos, até foram jogar na Bota depois (o segundo fez carreira, atuando por Atalanta, Napoli e Torino). Aquele placar fazia a Itália torcer para o Paraguai vencer os suecos no segundo jogo do grupo, mas um empate desclassificou os azzurri. Na despedida, novamente no Pacaembu, o 2 a 0 frente aos sul-americanos foi apenas uma consolação por uma campanha que poderia ter sido gloriosa.

Em 1954, bastaram duas derrotas para a Suíça, dona da casa, e tchau para a Itália (Witters)

7º lugar: Copa de 1954

A segunda vez em que a Itália caiu na fase de grupos da Copa do Mundo tem semelhanças com a eliminação mais recente, exatos 60 anos depois. A Azzurra caiu no grupo da morte, com Inglaterra, Bélgica e a Suíça, dona da casa. A base da seleção (seis jogadores) era a Inter, bicampeã italiana, mas cujos maiores destaques eram o sueco Skoglund e o húngaro Nyers. Entre os italianos, o melhor interista era Lorenzi, atacante. Além dos nerazzurri, a seleção tinha também Boniperti e mais quatro jogadores da Juventus, vice-campeã por duas vezes seguidas, e quatro da Fiorentina, terceira colocada.

Segundo o regulamento daquele Mundial, as duas seleções consideradas mais fortes dos grupos não se enfrentariam, e cada equipe faria apenas dois jogos. Assim, a Itália estreou contra a Suíça, treinada por Karl Rappan, e perdeu por 2 a 1. Na partida, Lorenzi teve um gol anulado e o árbitro brasileiro Mário Viana foi duramente criticado pelos azzurri, que chegaram até mesmo a agredi-lo fisicamente no caminho para os vestiários. Na segunda partida, a Itália goleou a Bélgica por 4 a 1, e graças à vitória inglesa sobre os helvéticos, por 2 a 0, a decisão ficou para uma partida-desempate.

Na Basileia, a Itália perdeu por 4 a 1 (dois gols nos minutos finais) e amargou a desclassificação. Porém, dificilmente aquela equipe seria páreo para a Hungria de Puskás, Kocsis e Hidegkuti ou para a Alemanha Ocidental de Fritz Walter e Rahn.

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